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11/04/2018 às 07:30, Atualizado em 10/04/2018 às 18:10

Comissão de Ética da presidência deve investigar negócios de Carlos Marun com Oriente Médio

Mulher do ministro é dona de consultoria empresarial focada no mundo árabe.

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Divulgação

A Revista Época dedicou no fim de semana extensa reportagem sobre o perfil do ministro da Secretaria de Governo de Michel Temer, o deputado federal por Mato Grosso do Sul, Carlos Marun, do MDB.

Tido como o “pit bull de Temer”, a revista, por meio da repórter Juliana Dal Piva, narrou que Marun se arrisca em negócio no Oriente Médio, e isso motivou Luiz Navarro, o novo presidente da Comissão de Ética da Presidência, a levar para discussão na próxima reunião do grupo a agenda pública do ministro.

Nota publicada na tarde desta segunda-feira (9), pelo jornal O Globo, informa que desde a sua posse (15/12/2017) ele promoveu uma série de reuniões com autoridades de países árabes, como o Kuwait, Tunísia e Líbano, entre outros.

Ainda de acordo com o Globo, a mulher de Marun Luciane Marun, é dona da Bropp, uma consultoria empresarial focada no mundo árabe. O ministro ainda não comentou o caso.

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Veja trecho da reportagem da Época que trata das atividades do casal Marun:

Em 2016, os negócios da família continuaram a prosperar. Em meio à recessão que obrigou diversas empresas a fechar as portas, a família Marun lançou uma “assessoria empresarial” voltada para países árabes. À frente dos negócios, Luciane Garcia Marun, a mulher do ministro.

No mesmo período, Marun, então deputado, teve vários encontros com autoridades e empresários de países do Oriente Médio. A agenda incluiu viagens ao Catar em missão oficial da Câmara acompanhado de funcionários da empresa da mulher. O interesse pelas Arábias prosseguiu no Palácio do Planalto. Desde janeiro, já teve sete encontros oficiais com autoridades do Kuwait, da Líbia, da Tunísia, do Iraque e do Líbano.

Na última semana, esteve com o presidente Michel Temer no Fórum Econômico Brasil-Países Árabes, em São Paulo. Seu antecessor no cargo, o deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA), não registrou agendas com essas autoridades ao longo de quase um ano.

Numa tarde de março, Luciane Marun estava sentada atrás de uma das duas mesas de sua sala na Brazilian Opportunities Assessoria Empresarial (Bropp), no bairro Jardim dos Estados, em Campo Grande. Na largada, ela já esclareceu que seu papel na vida política do marido era restrito “aos bastidores”.

Também gaúcha, de Porto Alegre, a arquiteta e advogada é a companheira de Marun desde os tempos em que se conheceram em uma boate na praia de Xangri-lá, em Atlântida, no Rio Grande do Sul, ainda na adolescência. Tinha 15 anos, e tudo começou como um amor de verão. A única discordância entre os dois é a que divide os gaúchos. Ela é gremista, ele um colorado fanático. A rixa chegou ao único filho do casal, Lourenço, de 14 anos.

Os dois casaram-se depois que ela terminou a faculdade e se estabeleceram em Campo Grande. Ela chegou a ser diretora técnica da Empresa Municipal de Habitação de Campo Grande, mas saiu com a chegada do marido à empresa. De lá para cá atua na iniciativa privada, em especial a corretagem de imóveis de “alto luxo", como define. Em 2009, Luciane abriu a empresa Luana Assessoria de Crédito Empresarial Ltda., que tinha como função “atividades de cobrança e informações cadastrais”. No segundo semestre de 2016, mesmo período em que Marun “deixou de ser baixo clero” na Câmara, a “Luana” foi rebatizada como Brazilian Opportunities Assessoria Empresarial, ou Bropp.

Em 1º de agosto daquele ano, Marun registrou em seu Facebook um encontro com o então embaixador dos Emirados Árabes, Khalid Khalifa, no qual estava acompanhado de Luiz Alberto Sperotto, à época diretor comercial da Bropp. Na legenda da foto, Sperotto foi apresentado apenas como “economista”.

Antes disso, Marun tinha feito duas viagens em missão oficial da Câmara para países árabes. Em junho de 2015, foi para o Líbano com um grupo de deputados. No ano seguinte, repetiu presença no Líbano. Em dezembro daquele ano, foi sozinho como representante da Câmara dos Deputados para Abu Dhabi e Dubai, nos Emirados Árabes, e Doha, no Catar.

Nessa viagem, em missão oficial autorizada pela Câmara, ele recebeu R$ 1.577,40 para cinco diárias no período de 18 a 23 de dezembro de 2016. As passagens foram pagas por Marun. No relatório de prestação de contas, o então deputado escreveu que as visitas serviram para “discutir temas de cooperação econômica” e informou que esteve na embaixada brasileira em Abu Dhabi e no Ministério de Relações Exteriores do Catar. Em 21 de dezembro, escreveu que participou de uma reunião em Dubai no banco de investimentos SG Morgan com potenciais investidores, onde fez exposição sobre “oportunidades no Brasil”.

ÉPOCA localizou no perfil do SG Morgan, um álbum de fotos da visita do deputado com o texto “Grande começo de negócios para 2017”. O banco anunciava que faria investimentos nas “províncias do Mato Grosso”. No álbum há imagens de Marun, com o CEO do banco, Shaun G. Morgan, e no mesmo local, em sequência, com o novo diretor comercial da Bropp, Mario Fernando Calheiros, que viajou para o local no mesmo período. Ele saiu do Brasil em um voo da Qatar Airlines em 19 de dezembro e retornou no dia 23.

Shaun Gregory Morgan, de 40 anos, nasceu na Nova Zelândia, mas já foi condenado e preso em dois países por fraudes. Primeiro na Suíça, após uma fraude de US$ 30 milhões, e em Utah, nos EUA, quando se declarou culpado por dirigir um banco falso e passar cheques falsos para comprar 40 propriedades. Os casos foram revelados pelo jornalista Matt Nippert, do NZ Herald, jornal de maior circulação de Auckland, na Nova Zelândia. Em 2013, depois de cumprir pena, ele foi deportado para a Nova Zelândia e se envolveu em novos casos de fraude na Austrália.

ÉPOCA tentou contato com ele desde a semana passada, mas não obteve resposta. Em seu site, o SG Morgan afirma, genericamente, que faz diversos investimentos, mas não apresenta clientes ou empreendimentos que trabalharam com o banco.

O mesmo ocorre com a Bropp. Com versão de seu site em português, inglês e até em árabe, a empresa se intitula como um instrumento para “viabilizar e assessorar as relações comerciais entre o Brasil e os países árabes”. A apresentação do site da Bropp diz que o Brasil vive um “momento especial” da vida política e econômica. “A chegada definitiva do presidente Michel Temer ao poder traz a estabilidade necessária para que este imenso país se transforme no desaguador de investimentos internacionais.”

A atividade da Bropp é bastante ampla. Assessora investidores interessados desde em mineração até em turismo, incluindo energia renovável, agronegócios, mineração, siderurgia, infraestrutura e projetos residenciais de alto padrão. Luciane diz que não faz “nada com empresa pública”.

“Por exemplo, tem uma usina de energia eólica aqui e tem um investidor de lá que quer comprar. Temos uma pessoa que é o comercial da empresa, eu sou só a parte burocrática”, disse. Além do escritório em Campo Grande, a empresa usa um coworking em Brasília para reuniões. Dentro do quadro de sócios está Aldemir Almeida, um dos antigos assessores de Marun no gabinete da Câmara.

Fonte - TopmidiaNews

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