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24/12/2025 às 11:00, Atualizado em 24/12/2025 às 08:59

Quando o Natal Voltou a Morar na Casa

Por Adriana Paioli

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Adriana Paioli 

A casa era simples, mas naquela semana de dezembro parecia respirar diferente. O cheiro de rabanada se misturava ao café passado na hora, e o presépio, montado com cuidado sobre a cômoda antiga, ocupava sempre o mesmo lugar — como se ali fosse o coração da casa.

Dona Noemi fazia questão de manter os costumes. Não por tradição vazia, mas porque acreditava que o Natal precisava ser vivido antes de ser enfeitado. As luzes só eram acesas depois da oração, a ceia só começava quando todos estivessem à mesa, e o primeiro presente sempre era o silêncio respeitoso que antecedia o “Amém”.

Os filhos crescidos chegavam aos poucos, trazendo na bagagem o cansaço do ano, pequenas mágoas guardadas e aquele desejo silencioso de encontrar aconchego. A casa, como sempre, os recebia sem perguntas. Natal tinha disso: não cobrava explicações, apenas presença.

Naquela noite, o pai, seu Antônio, leu em voz alta o trecho do nascimento de Jesus. Sua voz era firme, mas os olhos denunciavam emoção. Ele sabia que a família já não era a mesma de anos atrás — havia ausências, mudanças, dores —, mas ali, reunidos, ainda eram lar.

Entre uma lembrança e outra, risos surgiram tímidos, depois soltos. A ceia não era farta, mas era honesta. Havia amor em cada gesto: no prato servido com cuidado, no cobertor emprestado, no olhar que dizia “estou aqui”.

Quando os presentes foram trocados, ninguém se apressou. Alguns embrulhos eram simples, outros improvisados, mas todos carregavam intenção. O maior presente, porém, estava invisível: o perdão silencioso, a reconciliação que não precisou de discurso, a paz que se instalou devagar.

Antes de dormir, Dona Noemi apagou as luzes da árvore e olhou o presépio mais uma vez. Sorriu. O Natal não estava nos enfeites nem na data marcada no calendário. Ele morava ali, na escolha diária de amar, perdoar e permanecer juntos, apesar de tudo.

Naquela casa, o Natal não passava.

Ele ficava.

“Que o verdadeiro sentido do Natal habite nossos lares.”

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