Mato Grosso do Sul registrou 79.613 apólices de seguro rural neste ano, conforme dados do Atlas do Seguro Rural do Ministério da Agricultura (Mapa). A quantidade representa um aumento de 3,7% em relação ao ano passado, quando foram registradas 76.802 apólices. Já o número de produtores que aderiram ao seguro triplicou, saindo de 3.560 em 2024 para 12.027 neste ano, alta de 237%.
A Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) explica que eventos climáticos extremos influenciaram diretamente a busca pelo seguro. “Esse impacto é hoje um dos principais motores de crescimento do setor.
Secas prolongadas, excesso de chuvas, geadas e ondas de calor têm se tornado mais frequentes e intensas, aumentando a percepção de risco entre os produtores”, avalia o analista de economia da Famasul, Jean Américo.
Os dados ainda apontam que o número de produtores caiu mais do que a metade em todo o Brasil. O número de produtores que contrataram algum seguro rural neste ano foi de 35.230, o que representa uma redução de 59% no comparativo com os 85.580 do ano anterior.
A retração na quantidade de produtores tem explicação, conforme os especialistas da área. Luciano Lemos, corretor de seguros, enumera dois fatores que puxam essa queda, a diversificação de culturas por produtor e a dificuldade de acesso ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) entre pequenos.
“Hoje é normal uma área ter três culturas dentro do Plano Safra e quando o produtor já é familiarizado com o seguro rural, ele faz a contratação. E isto é possível com produtores maiores e assim explica o outro lado. Produtores menores não têm estrutura para mais culturas em sua área e assim a contratação do seguro é menor ou não chega a ter acesso pelo PSR, pois o recurso é muito pequeno para a demanda. Com isso, acaba tendo uma concentração de apólices em um número menor de produtores”, explica.
Nesse contexto, o comportamento dos produtores também mudou. Américo observa que o perfil de quem busca o seguro rural está mais diversificado.
“De forma geral, o perfil do produtor que busca seguro rural realmente mudou nos últimos anos. No passado, era mais comum entre grandes produtores, no entanto, hoje também é buscado por pequenos e médios [produtores]. Isso se deve ao aumento dos riscos climáticos, à maior necessidade de proteger a renda, ao acesso ampliado ao crédito e à maior divulgação do seguro por cooperativas, assistência técnica e instituições financeiras. Assim, o seguro passou a ser uma ferramenta usada por produtores de diversos portes”, afirma.
Ainda assim, o analista destaca que barreiras continuam limitando o alcance do seguro. “A baixa adesão ao seguro rural ocorre principalmente pelo custo considerado elevado, pela desconfiança quanto ao pagamento de indenizações, pela burocracia envolvida na contratação e em alguns casos pela falta de informação dos produtores”, pontua.
“Além disso, a oferta limitada de produtos, a baixa percepção de risco e a instabilidade orçamentária do PSR reduzem ainda mais o interesse do produtor rural em contratar o seguro. A combinação desses fatores explica por que muitos produtores ainda não acessam o seguro rural”, analisa.
PRODUÇÃO
O economista Daniel Frainer, por sua vez, contextualiza o cenário econômico que cerca o setor. Para ele, o ambiente financeiro geral permanece estável, mas com mudanças na postura dos bancos.
“O cenário econômico, em essência, manteve-se estável. A principal alteração reside na abordagem das instituições financeiras. Observa-se uma menor disposição em conceder alienação fiduciária, privilegiando, em vez disso, o refinanciamento de dívidas sem garantias”, acrescenta.
“No setor agrícola, o panorama é favorável. O País se aproxima de uma safra recorde. A desvalorização do dólar impulsiona a viabilidade de diversas produções, dado que a maioria dos insumos é importada. Consequentemente, a rentabilidade dos negócios rurais tende a aumentar”, elenca.
A pecuária, no entanto, vive situação oposta. “Em contraste, a pecuária de corte enfrenta dificuldades. A recuperação judicial de alguns frigoríficos e a inadimplência geraram um cenário adverso para os produtores. A tendência é de retração do setor, já observada nos últimos 10 anos, com a redução do rebanho. Embora o rebanho total não tenha diminuído em virtude da expansão em outras regiões, como o estado de Goiás, a perspectiva é de encolhimento do setor no estado em questão”, complementa.
Ainda de acordo com Frainer, em relação à lavoura, a expectativa é de expansão e aumento da viabilidade dos negócios, impulsionada pelo cenário internacional positivo, como a recente liberação das exportações para os Estados Unidos.
“A cotação do dólar, abaixo de R$ 5,30, facilita a aquisição de insumos. Espera-se que o próximo ano se inicie sem as instabilidades observadas recentemente, indicando um cenário mais promissor”, acrescenta.
Lemos acrescenta que tendências setoriais definem o que é mais seguro e devem continuar orientando o mercado. “A soja e o milho são as culturas com maior demanda de seguro, pois são as maiores áreas plantadas, e devem continuar puxando as demandas de seguro agrícola nos próximos anos”.
Já para o analista da Famasul, esse crescimento também leva à modernização dos processos. “Esse movimento se reflete em maior demanda por apólices, expansão da oferta de produtos e maior participação das seguradoras nas regiões mais vulneráveis”, descreve Américo. Com informações do Correio do Estado.








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