Pela primeira vez, o governo federal vai utilizar recursos do Fundo Amazônia para ajudar no combate a incêndios no Cerrado e no Pantanal. O plano, articulado pelos ministérios do Meio Ambiente e da Justiça, prevê repasse de R$ 150 milhões para cinco estados: Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás, Bahia e Piauí, além do Distrito Federal.
O projeto, chamado de “Manejo Integrado do Fogo”, foi encaminhado ao BNDES, responsável pela administração do fundo, há cerca de duas semanas. Embora ainda esteja em análise, órgãos do governo afirmam que a liberação dos recursos é dada como certa.
Criado em 2008 , o Fundo Amazônia nunca havia destinado recursos para fora da região amazônica. Mas o agravamento das queimadas em outros biomas, principalmente no último ano, levou o governo Lula (PT) a estender o uso do fundo, financiado majoritariamente por doações internacionais.
Levantamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostra que, em 2024, os incêndios devastaram 592,6 mil km² em todo o território nacional, recorde desde o início da série histórica em 2003. O cerrado respondeu por 242 mil km² queimados, enquanto no Pantanal a área destruída mais que dobrou em relação a 2023, alcançando 27 mil km².
De janeiro a maio deste ano, o fogo já atingiu 30,8 mil km² no Brasil, número próximo ao registrado no mesmo período do ano passado (36 mil km²) e o segundo pior para o período em 22 anos.
O governo federal quer conter o avanço dos incêndios antes da temporada mais crítica, que ocorre entre julho e setembro, especialmente porque o Brasil será sede da COP30, conferência climática da ONU que acontecerá em novembro, em Belém (PA).
Os recursos do Fundo Amazônia serão direcionados à compra de equipamentos, veículos e materiais de apoio aos brigadistas. Entretanto, não poderão ser usados para pagamento de salários.
Entre os estados que mais registraram focos de calor em 2024, destacam-se Mato Grosso do Sul, com 13 mil pontos de incêndio, Minas Gerais, com 11,7 mil e Piauí, com 10,5 mil, segundo o Ministério da Justiça.
Corumbá lidera áreas queimadas
Conhecida como a capital do Pantanal, Corumbá, concentra a maior área de vegetação queimada no Brasil nas últimas quatro décadas. Dados do MapBiomas apontam que, entre 1985 e 2024, mais de 3,8 milhões de hectares foram queimados apenas no município.
A pesquisa revela que 72% do Pantanal queimou ao menos duas vezes nesse período, com a maioria dos incêndios (93%) atingindo vegetação nativa, principalmente campos alagados e formações campestres. Pastagens responderam por apenas 4% da área afetada.
Somente em 2024, a área queimada no Pantanal foi 157% maior do que a média histórica, segundo o Relatório Anual do Fogo (RAF). O levantamento aponta que a região mais atingida foi o entorno do Rio Paraguai, que sofre longos períodos de seca desde 2018.
O Governo de Mato Grosso do Sul está preparando a “Operação Pantanal 2025”, com investimentos em equipamentos, treinamentos e a instalação de novas bases avançadas em regiões estratégicas do bioma. As bases permitem resposta mais rápida em áreas de difícil acesso e alto risco de queimadas.
Desde 2024, 11 bases foram instaladas pelo Corpo de Bombeiros em pontos críticos do Pantanal, com equipes posicionadas conforme estudos que indicam onde o fogo tende a ocorrer com maior frequência.
O relatório do MapBiomas indica que a Amazônia concentrou mais da metade da área queimada no Brasil em 2024: 15,6 milhões de hectares, número 117% acima da média histórica. A Mata Atlântica também teve aumento expressivo, com 1,2 milhão de hectares queimados - alta de 261% sobre a média.
No Cerrado, os números são ainda mais alarmantes: 3,7 milhões de hectares queimaram mais de 16 vezes no ano passado, e a área de vegetação florestal perdida foi 287% maior que a média histórica.
Com informações do Correio do Estado
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