Em Mato Grosso do Sul, mais de 60% das famílias dizem não à doação de órgãos quando entrevistadas em situações de morte encefálica de um parente. O dado da Central Estadual de Transplantes (CET) revela um dos maiores desafios para salvar vidas: a falta de autorização, mesmo quando existe possibilidade clínica de doação.
A negativa familiar significa que, em mais da metade dos casos, pacientes que aguardam na fila deixam de ser beneficiados. “A entrevista familiar é uma etapa decisiva. Quando a pessoa manifesta em vida o desejo de ser doadora, essa informação facilita a decisão da família e aumenta as chances de autorização”, explica a coordenadora da CET, Claire Carmen Miozzo.
Avanços registrados
Apesar da alta taxa de recusa, o Estado vem registrando resultados expressivos. De janeiro a setembro de 2025, foram realizados 218 transplantes de córnea, 39 de fígado, 16 de rim e 4 de ossos, beneficiando diretamente centenas de pacientes.
Menos de um ano após iniciar os transplantes de fígado, Mato Grosso do Sul já ocupa a 4ª posição no ranking nacional, com taxa de 17,9 procedimentos por milhão de habitantes, segundo o Registro Brasileiro de Transplantes (RBT). O Estado fica atrás apenas do Distrito Federal (48,3), Paraná (21,0) e Ceará (18,6).
“Esse resultado reforça o compromisso do Estado com a ampliação do acesso a procedimentos de alta complexidade. A habilitação da equipe e da unidade hospitalar permitiu que, em menos de um ano, alcançássemos uma posição de destaque nacional”, destacou o secretário de Saúde, Maurício Simões Corrêa.
Mobilização e reconhecimento
Como parte da campanha Setembro Verde, duas ações buscam sensibilizar a população sobre a importância de conversar com a família sobre a doação de órgãos e tecidos.
No dia 21 de setembro, será realizada a 2ª Caminhada “Passos pela Vida”, no Parque dos Poderes, em Campo Grande, das 8h às 10h30, com concentração no Corpo de Bombeiros. Já no dia 22 de setembro, o Plenário Deputado Júlio Maia, na Assembleia Legislativa, sediará a entrega do Diploma de Honra ao Mérito Legislativo “Amigo do Transplante”, que homenageia pessoas e instituições que contribuem para a cultura da doação.
Importância da decisão em vida
A legislação brasileira estabelece que a doação só pode ser autorizada por familiares de até 2º grau, cônjuge ou companheiro, mediante testemunhas. Por isso, especialistas reforçam a necessidade de manifestar em vida o desejo de ser doador e compartilhar essa decisão com a família.
O acolhimento no momento da entrevista familiar, aliado à certeza da vontade do ente falecido, é fundamental para que vidas sejam salvas.
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