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19/01/2024 às 10:01, Atualizado em 18/01/2024 às 23:28

Perigo na pista: em 1 mês, 5 pessoas morrem nas rodovias de MS em acidentes envolvendo antas

Mortes entre 16 de dezembro de 2023 e 15 de janeiro de 2024 na BR-262 e na MS-040 ligaram o alerta sobre a segurança nas rodovias do estado

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 Foto: INCAB-IPÊ/Reprodução

As mortes de cinco pessoas ligadas a acidentes entre antas e veículos na BR-262 e MS-040, em trechos de Mato Grosso do Sul, levantaram alerta dos especialistas. Para as pesquisadoras da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB), a recorrência dos registros não é novidade.

O levantamento do INCAB mostra que cinco mortes foram registradas entre os dias 16 de dezembro de 2023 e 15 de janeiro de 2024. Todas as mortes possuem uma ligação: foram em rodovias de Mato Grosso do Sul e são acidentes envolvendo antas, maior mamífero terrestre da América do Sul, segundo o Portal G1.

“A colisão com antas em rodovias é uma problemática multifatorial. Primeiramente, o problema está diretamente relacionado com a segurança dos usuários dessas rodovias estaduais e federais. É um animal de grande porte, estamos falando entre 200 e 300kg, de forma que a colisão entre um veículo e uma anta é um grande acidente com consequências muito sérias", explica a coordenadora da INCAB-IPÊ, Patrícia Medici.

A especialista também comenta sobre as perdas, sejam materiais ou para a fauna e flora de Mato Grosso do Sul. A coordenadora do projeto contextualiza a importância das antas para a boa conservação do ecossistema do estado.

"Temos também a questão das perdas econômicas – o veículo em uma colisão com anta fica bastante destruído. Por fim, há a perda direta de um animal tão importante – a anta está ameaçada de extinção e é responsável pela manutenção da biodiversidade, através da dispersão de sementes”.

O g1 questionou a Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos (Agesul), pasta estadual que administra a MS-040, sobre a situação na rodovia e ações para mitigar os danos. Em nota, a agência informou que cercas foram implantadas na estrada através de um programa do próprio governo.

"Atualmente, o programa Estrada Viva possui aproximadamente 900 metros de cerca condutora de fauna na MS-040, atendendo aos dois lados da rodovia. Esses dispositivos foram instalado nos pontos de maior probabilidade de colisão identificados através do monitoramento do programa", destaca a nota.

Já sobre a BR-262, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) foi questionado sobre as ações que realizam ao longo das rodovia. Leia trecho da nota abaixo:

"Entre estas ações, o DNIT realiza o monitoramento da presença de animais ao longo da área de influência do empreendimento e da incidência de animais atropelados nas estradas por meio da execução de programas ambientais específicos que são estabelecidos de acordo com Termo de Referência do órgão ambiental licenciador, os quais apontam diretrizes e critérios técnicos gerais a fim de subsidiar o processo de licenciamento ambiental".

Fragilidade das rodovias

Ao longo de sete anos, o instituto levantou dados que mostram a fragilidade estrutural da BR-262 e MS-040. Nos cerca 8 mil quilômetros de rodovias do estado, 34 trechos foram monitorados correspondendo à aproximadamente 6.000 quilômetros de vias amostradas.

A análise dos dados coletados demonstrou que alguns trechos possuem maior concentração de eventos de colisões com antas. Esses trechos são chamados de hotspots.

A BR-267, BR-262 e MS-040 apresentaram maior número de antas atropeladas em relação às outras rodovias amostradas, compondo aproximadamente 80% de todos os registros. A BR-262, para especialistas, é chamada de "rodovia da morte".

"As colisões veiculares em rodovias são uma das ameaças mais sérias à sobrevivência da anta brasileira – espécie listada como vulnerável à extinção na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza. A anta apresenta um ciclo reprodutivo bastante lento e o impacto das ameaças pode levar a declínios populacionais ou até mesmo extinções locais", comenta a pesquisadora.

Ações para mitigar mortes e acidentes

Para que a situação seja mitigada, o INCAB-IPÊ elenca algumas medidas:

Passagens de fauna inferiores;

Passagens de fauna superiores;

Adaptações de drenagens fluvio-pluviais para a passagem de fauna;

Cercamento ao longo de passagens inferiores e superiores;

Sinalização, redutores físicos e eletrônicos de velocidade;

Sistemas de detecção animal que são implementadas e podem reduzir substancialmente o atropelamento de animais.

Leia a nota do Dnit na íntegra abaixo:

"O DNIT salienta que - por meio dos contratos para elaboração de estudos ambientais, de estudos de terras indígenas e na execução dos contratos de gestão ambiental em rodovias sob administração desta autarquia - realiza campanhas de sensibilização ambiental junto aos usuários e comunidades lindeiras às rodovias, além de ações com os colaboradores dos empreendimentos. Vale reforçar que estes contratos de Gestão Ambiental integram medida de mitigação e/ou de compensação exigida pelos órgãos ambientais licenciadores das obras executadas pelo DNIT.

Entre estas ações, o DNIT realiza o monitoramento da presença de animais ao longo da área de influência do empreendimento e da incidência de animais atropelados nas estradas por meio da execução de programas ambientais específicos que são estabelecidos de acordo com Termo de Referência do órgão ambiental licenciador, os quais apontam diretrizes e critérios técnicos gerais a fim de subsidiar o processo de licenciamento ambiental.

Desta forma, a execução de programas como o Programa de Monitoramento de Fauna e Programa de Monitoramento do Atropelamento de Fauna cumpre a função de implementar as medidas mitigadoras consideradas adequadas para reduzir ou eliminar a mortalidade de animais silvestres por atropelamentos nas rodovias federais.

Entre as medidas mitigadoras implantadas e desenvolvidas pelo DNIT, por meio destes contratos, estão: identificação e definição dos hotspots de travessias e atropelamentos de animais; instalação de cercas guias ao longo do trecho rodoviário servindo como barreira e estrutura de contenção para os animais, ao longo da faixa de domínio da rodovia; implantação de passagens de fauna aéreas e subterrâneas que auxiliam na manutenção do fluxo das populações de animais silvestres entre lados distintos da rodovia, evitando o isolamento dessas populações; implantação de placas sinalizadoras orientativas e educativas, quanto à presença de animais, redução da velocidade e outros, de forma a diminuir a incidência de atropelamentos e a garantir a proteção das espécies; monitoramento das estruturas com metodologias específicas como câmeras-trap (equipamentos com sensores de movimento/temperatura que registram imagens automaticamente quando um animal passa diante do seu visor) e caixas de areia.

Atualmente, o DNIT é responsável por cuidar de 1,1 mil dispositivos de proteção à fauna, sendo a maioria passagens inferiores com áreas seca ou úmida associadas a dispositivos de drenagem implantados ao longo dos 61 mil quilômetros de rodovias sob responsabilidade do Departamento. A autarquia também iniciou a implantação de passagens suspensas para fauna arborícola. A primeira a ser implantada foi na BR-319/AM/RO, localizada próxima à Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Igapó Açu, no km 271 da rodovia".

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