Publicado em 20/01/2019 às 13:30, Atualizado em 20/01/2019 às 10:47

Oliveira Andrade recorda troca na Globo por Luis Roberto: "fui sacaneado"

Trairagens na televisão e no rádio.

Redação,
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Divulgação Band

Rádio Jovem Pan, TV Globo, TV Bandeirantes, TV Record, BandSports… Aos 68 anos e com uma carreira sólida e ainda ativa, Oliveira Andrade se tornou, ao longo dos anos, uma das principais referências quando o assunto é narração de eventos esportivos. Acumulou momentos marcantes na vida profissional, como narrar a medalha de ouro do vôlei feminino em Londres (2012), mas também, como não podia deixar de ser diante de tantos anos à frente dos microfones, colecionou algumas frustações. A maior delas aconteceu em 1998, quando estava escalado para cobrir a Copa do Mundo da França e acabou cortado de última hora.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Oliveira Andrade não esconde detalhes de bastidores que resultaram em sua ausência no Mundial que teve a França de Zidane derrotando o Brasil de Ronaldo na grande decisão. Ele aponta culpados pelo episódio e admite até certa chateação com o narrador Luis Roberto, que acabou ficando com a sua vaga para narrar a competição.

"Em 98 estava tudo certo para eu fazer parte da equipe que ia cobrir a Copa da França. Eu já tinha escolhido roupa, feito credenciamento, enfim, estava com tudo ok. Foi quando eles contrataram o narrador Luis Roberto. Na verdade, a empresa já estava procurando mais um narrador fazia um tempão, eles estavam querendo alguém que pudesse ficar baseado no Rio de Janeiro. E eu mesmo indiquei o Luis Roberto, levei até fitas dele lá para o Marquinho [Marco Mora], que era o diretor em São Paulo, e o contrataram. E resolveram assim, do nada, me tirar do esquema da cobertura da Copa da França", afirma Oliveira, que diz ter sido sacaneado.

"Sem dúvida eu fui sacaneado, eu fiquei sabendo pelo jornal que eu não ia… Peguei o jornal 'Folha de São Paulo' e tinha uma coluna lá: a Globo já definiu os narradores da Copa da França: Galvão Bueno, Cléber Machado e Luis Roberto", conta Oliveira Andrade.

"Pô, aí o pau começou a comer, e quando acabou a Copa eu procurei o Marquinho e falei: 'É o seguinte, não quero mais ficar aqui. Tenho um contrato que vai até fevereiro de 99, mas eu não quero mais continuar aqui do jeito que está. Eu fui sacaneado grandemente, é inadmissível que eu não tenha sido informado do corte, as razões e etc.."

"Demorou um mês para acertar tudo, eles toparam pagar a minha multa rescisória e eu rescindi o contrato", conta o narrador, hoje funcionário da Bandeirantes e do BandSports.

Apesar da amizade que tem com Luis Roberto, Oliveira Andrade admite ter ficado chateado com o fato de o companheiro de profissão não tê-lo procurado na época.

"Não trocou ideia nenhuma comigo, e isso também me chateou de uma certa forma. Ele vivia me cercando quando a gente se cruzava nos estádios, ele fazendo jogos pela rádio Globo SP e eu pela televisão. Sempre vinha e me dava um toque: 'Pô, fala lá sobre o meu trabalho, eu já mandei fitas para lá'. Eu me dava bem com ele, e me dou bem até hoje. Só que ele não me procurou, não me disse absolutamente nada", acrescenta Oliveira Andrade.

O UOL Esporte procurou Luis Roberto e a TV Globo, mas a emissora informou que ambos não irão se manifestar sobre o assunto.

Ainda assim, Oliveira Andrade isenta Luis Roberto de qualquer culpa por ter ficado fora do Mundial de 1998. Na visão dele, dois diretores, Luis Fernando Lima e o já falecido Evandro Carlos de Andrade, foram os responsáveis por sua ausência na escala da TV Globo para a Copa.

Oliveira Andrade diz que seu corte foi provocado por uma antiga desavença entre ele e os dois diretores – em uma história que envolveu até José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, então vice-presidente de operações da emissora carioca.

Segundo Oliveira Andrade, o narrador teria recebido uma proposta da Record (inicialmente dada a Galvão Bueno) para fazer a Olimpíada de Atlanta-1996. A oferta, boa financeiramente, balançou o então funcionário da Globo. Diretor na época, Ciro José teria sido o responsável por segurar Oliveira Andrade na emissora carioca – Evandro de Carlos de Andrade teria sido contra por considerar os valores da renovação muito altos.

"Esse cara [Evandro] já tinha assumido o jornalismo geral da Globo, e tinha que passar por ele. Aí o Ciro foi para o Rio de Janeiro e falou para ele: 'O Oliveira tem uma proposta da Record e eu não quero que ele saia, mas eu preciso renovar o contrato dele com um reajuste considerável', e aí o Evandro falou: 'Não, não vou assinar'".

"O Ciro chegou no Rio e foi direto no Boni, que ainda estava no cargo de vice-presidente de operações. E aonde o Boni punha a assinatura ninguém ousava contestar", disse Andrade. Segundo o narrador, o "ok" de Boni garantiu sua permanência na emissora.

"E foi aí que acho que esse Evandro ficou na marcação comigo. Meses depois o Ciro saiu e esse cara, o Luis Fernando Lima, assumiu. Foi promovido pelo Evandro, era amigo dele. E foi isso que aconteceu: nós fomos para Atlanta fazer as Olimpíadas de 96 e, quando chegou a Copa de 98, esse cara deve ter falado para o Luis Fernando: 'Eu vou dar o troco lá no Oliveira'".

Também procurado pela reportagem, Luiz Fernando Lima deu a sua versão sobre as declarações dadas por Oliveira Andrade:

"Oliveira Andrade, sem o microfone na mão, como nessa entrevista, confirma que tem talento pra contar histórias – desde que sem compromisso com a informação. Aparentemente não está em paz com o seu passado pois se alguma coisa lá atrás deu errado o responsável não foi ele, foram os outros. Meus critérios de seleção de narradores sempre procuraram seguir o que entendi ser o melhor para o público. Fiz isso durante os 17 anos em que dirigi o esporte da Globo – do total de 30 que trabalhei na empresa", diz o ex-diretor da Globo.

Luiz Fernando Lima ainda aponta uma história sobre Oliveira Andrade para justificar a ausência dele em sua equipe na Copa do Mundo de 1998.

"Certa vez, durante uma Olimpíada, Oliveira Andrade ia narrar uma prova de nado de costas. Nessa prova, os nadadores se jogam na água para se posicionarem antes da largada. Oliveira Andrade, ao vivo, narrou esse momento com toda a empolgação, como se fosse a largada real da prova. Mas em vez de ir pra frente, os nadadores pararam e voltaram pra suas posições junto aos blocos de partida. Oliveira Andrade: 'Ih, queimaram a largada'!", recorda.

"Eu gosto do sujeito, Oliveira é uma excelente companhia pra um bate-papo. Mas essa história ilustra porque ele deixou de fazer parte do meu time de profissionais.