Publicado em 21/11/2020 às 17:00, Atualizado em 21/11/2020 às 15:51

Acompanhamento pré-natal da Rede Pública de Saúde apresenta falhas

Segundo estudo realizado pela UFGD, a falta de acompanhamento adequado durante a gestação tem gerado superlotação no SUS

Redação,
Cb image default
Foto - reprodução Correio do Estado

Pesquisa desenvolvida pelo Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), descobre falhas no acompanhamento pré-natal ofertado para gestantes em hospitais da rede pública de Saúde.

Os dados foram levantados a partir de uma pesquisa desenvolvida pela universidade entorno das doenças sífilis e neurossífilis, demonstrando falhas na prevenção e no tratamento das doenças, acarretando aumento no índice da transmissão de mãe para filho durante a gestação.

Para a realização do estudo foram utilizadas 63 gestantes diagnosticadas com sífilis, admitidas para o parto no Hospital Universitário da UFGD (HU-UFGD), e seus recém-nascidos.

Entre os bebês, 12,7% tiveram complicações clínicas, como baixo peso ao nascer, e cerca de 50% tiveram de ser hospitalizados por complicações de sífilis.

Cada um desses casos acarretou ao SUS um custo de US$ 881,48 em tratamento e internação, o equivalente a R$ 4,5 mil, segundo cotação de sexta-feira.

Ao todo foram avaliados 21 recém-nascidos com neurossífilis e 42 com sífilis congênita, caso de quando a enfermidade é transmitida de mãe para filho durante a gestação.

Das 63 gestantes, 60 receberam acompanhamento pré-natal e 47 delas somente souberam que estavam com a doença neste período.

De acordo com a pesquisa, a falta de acompanhamento adequado e de qualidade tem contribuído para a superlotação das unidades de saúde, principalmente das áreas intensivas neonatais.

Como explica a coordenadora, Simone Simionatto,“o diagnóstico tardio da sífilis em gestantes e o acompanhamento inadequado dos parceiros sexuais podem favorecer a transmissão vertical da bactéria Treponema pallidum causadora da doença em gestantes brasileiras. Assim, melhorar a qualidade dos serviços de saúde é importante para um controle mais eficaz da neurossífilis”, afirma.

A bióloga explica que o constrangimento das mulheres e a ausência do parceiro no tratamento, chamou a atenção dos pesquisadores, levantando questionamento sobre o assunto ser um tabu em sociedade.

“Normalmente, as mulheres, quando recebiam o diagnóstico, reagiam com constrangimento, o que se deve ao pouco conhecimento sobre a doença e por ela ainda estar envolta em estigmas. A maioria delas não recebeu apoio dos parceiros. Prevalece uma grande resistência por parte dos homens em torno da enfermidade, o que nos leva a crer que é preciso um amplo processo de discussão com a comunidade para que a informação seja difundida”, salientou.

Simionatto pontua que a falta de políticas públicas em relação à prevenção dessas doenças é uma falha que deve ser observada, pois, agrava a situação do SUS e coloca em risco a vida de gestantes e bebês.

“O diagnóstico precoce da sífilis no primeiro trimestre de gestação, o acompanhamento do tratamento da gestante e do parceiro e futuros estudos para identificar as dificuldades do sistema público de saúde em realizar um pré-natal eficiente são as soluções indicadas”, explica.

A pesquisa teve início em 2016, no entanto, somente no ano seguinte o estudo aderiu o foco em neurossífilis, uma complicação da sífilis que pode gerar sintomas como falência de memória, depressão, paralisias e convulsões.

Financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento de Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

O estudo conta com a participação do médico infectologista Julio Croda, e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), além das enfermeiras Cristiane de Sá Dan e Andrea da Silva Santos, ambas do Hospital Universitário UFGD (HU-UFGD) e alunas do PPGCS/UFGD.

Fonte - Correio do Estado