Publicado em 21/12/2025 às 11:00, Atualizado em 21/12/2025 às 09:57
Presidente brasileiro diz que intervenção armada seria “catástrofe humanitária” e defende solução diplomática para evitar conflito regional
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um duro alerta neste sábado (20) durante reunião do Mercosul sobre o risco de um conflito armado na América do Sul, diante da ameaça de intervenção militar dos Estados Unidos na Venezuela. Segundo Lula, uma ação desse tipo para derrubar o governo do presidente Nicolás Maduro poderia desencadear uma guerra de proporções imprevisíveis no continente.
“Passadas mais de quatro décadas desde a Guerra das Malvinas, o continente sul-americano volta a ser assombrado pela presença militar de uma potência extrarregional. Os limites do direito internacional estão sendo testados”, afirmou Lula. Em seguida, fez um alerta direto: “Uma intervenção armada na Venezuela seria uma catástrofe humanitária para o hemisfério e um precedente perigoso para o mundo”.
Atualmente, forças militares dos Estados Unidos mantêm tropas e embarcações no Mar do Caribe, na fronteira venezuelana, sob o argumento de combate ao narcotráfico. As ações incluem um bloqueio naval que dificulta a circulação de navios petroleiros venezuelanos. O petróleo é o principal pilar da economia do país caribenho, e a estratégia norte-americana pode resultar em asfixia financeira do governo de Caracas.
Desde setembro, de acordo com informações citadas no discurso, cerca de 25 ataques a embarcações no Caribe teriam sido realizados por forças militares dos EUA, com pelo menos 95 mortos. Em declaração recente, o presidente norte-americano Donald Trump afirmou que a Venezuela está “completamente cercada pela maior armada já reunida na história da América do Sul”, acrescentando que a pressão só cessaria quando o país “devolvesse aos Estados Unidos todo o petróleo, terras e outros bens”.
A escalada de tensão ampliou as dúvidas sobre os reais interesses dos EUA na mudança de regime venezuelano, que vão além do discurso oficial de combate ao narcotráfico. Lula destacou essa preocupação e questionou as motivações por trás da ameaça militar. “Era possível negociar sem guerra. Então, eu fico sempre preocupado com o que está por detrás. Porque não pode ser apenas a questão de derrubar o Maduro. Quais são os interesses outros que a gente ainda não sabe?”, indagou.
Em entrevista concedida na quinta-feira (18), no Palácio do Planalto, Lula revelou que manteve conversas telefônicas tanto com Maduro quanto com Trump, buscando abrir canais de diálogo e evitar uma escalada militar. Segundo o presidente, o Brasil se colocou à disposição para atuar como mediador diplomático, ressaltando a importância estratégica da estabilidade regional, especialmente por conta da extensa fronteira brasileira com a Venezuela.
Lula também informou que pretende voltar a falar com Trump antes do Natal e determinou que o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, permaneça no Brasil nas próximas semanas, diante da possibilidade de agravamento do cenário. Para o presidente, a diplomacia e a articulação internacional são os únicos caminhos capazes de evitar que a América do Sul volte a ser palco de um conflito armado de grandes proporções.
*Com informações da Agência Brasil