Publicado em 08/01/2021 às 13:08, Atualizado em 08/01/2021 às 13:03

Bolsonaro usa invasão nos EUA para questionar eleições no Brasil

Redação,

Em conversa com apoiadores, o presidente Jair Bolsonaro usou nesta quinta-feira, dia 07 de janeiro, os acontecimentos espantosos dos Estados Unidos para voltar a questionar o sistema eleitoral brasileiro — mais uma vez sem apresentar absolutamente nenhuma prova, como Donald Trump; mais uma vez falando mal da imprensa, como Donald Trump.

Questionando a eleição da qual saiu vitorioso, Bolsonaro disse: "Aqui no Brasil, se tivermos o voto eletrônico em 2022, vai ser a mesma coisa. A fraude existe. Aí a imprensa vai falar: 'Sem provas, diz que a fraude existe'. Eu não vou responder esses canalhas da imprensa mais, tá certo? Eu só fui eleito porque tive muito voto em 2018".

Na sequência do ataque ao sistema eleitoral do Brasil, Bolsonaro foi além. Pouco mais de 12 horas depois das cenas da invasão do Congresso dos Estados Unidos, o presidente brasileiro se permitiu fazer uma previsão em tom de ameaça:

"Se nós não tivermos o voto impresso em 2022, uma maneira de auditar o voto, nós vamos ter problema pior que os Estados Unidos."

Essas declarações provocaram reações contundentes.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foi enfático ao rebater a fala de bolsonaro. Em uma rede social, ele disse:

"A frase do presidente Bolsonaro é um ataque direto e gravíssimo ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e seus juízes. Os partidos políticos deveriam acionar a Justiça para que o presidente se explique. Bolsonaro consegue superar os delírios e os devaneios de Trump."

O PT, que disputou o segundo turno em 2018 com Bolsonaro, disse que ele age de maneira irresponsável ao atacar o processo eleitoral brasileiro e fazendo ameaças às futuras eleições. Segundo o partido, a manifestação é séria e grave e precisa ser apurada.

O presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, declarou que o processo eletrônico nunca apresentou qualquer evidência ou mesmo indício de fraude; que fraudes ocorriam no tempo do voto em cédula, como está comprovado pelos registros históricos.

O ministro afirmou ainda que, pelo atual sistema, as urnas trabalham desconectadas de qualquer rede de internet e por isso estão imunes aos ataques de hackers; e que, no dia das eleições, a urna imprime um boletim comprovando que está zerada e, ao final, imprime outro boletim com os votos computados, que podem ser auditados.

Barroso afirmou que o STF (Supremo Tribunal Federal) já concluiu que a impressão do voto colocaria em risco o sigilo e a liberdade e aumentaria os custos sem qualquer ganho relevante para a segurança da votação.

O presidente do TSE disse ainda que a vida institucional não é um palanque e que, se alguma autoridade tem qualquer elemento que coloque em dúvida a segurança do processo eleitoral, tem o dever cívico e moral de apresentá-lo. Caso contrário, afirmou Barroso, estará apenas contribuindo para ilegítima desestabilização das instituições.

Segundo ele, uma importante lição da história é que os governantes democráticos desejam ordem e não devem fazer acenos para desordens futuras, para violência e agressão às instituições.

O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) também condenou a declaração de Bolsonaro. Ele disse: "As instituições precisam se preparar para o maior de seus testes em 2022: resistir aos atentados dos detratores da República. Ninguém assumirá a presidência sem votos. É preciso repelir, desde já, qualquer manobra golpista. A democracia prevalecerá".

Fonte - G 1