A Polícia Federal (PF) prendeu em flagrante um indígena suspeito de participar como pistoleiro do ataque armado à Terra Indígena (TI) Iguatemipeguá I, em Iguatemi (MS). O Guarani Kaiowá Vicente Fernandes Vilhalva, de 36 anos, morreu durante o conflito desse domingo (16).
Segundo a PF, o indígena preso foi reconhecido por uma vítima que foi ferida durante o ataque. Junto do suspeito, foram apreendidas duas espingardas calibre 12, utilizadas por uma empresa de segurança de uma das fazendas na área de retomada. Ele foi encaminhado à Delegacia de Polícia Federal (DPF) de Naviraí.
A região onde Vicente foi morto enfrenta conflitos há mais de uma década. A tensão entre indígenas e proprietários rurais começou em 2013, quando a área foi delimitada como Terra Indígena pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
A área em conflito integra a Terra Indígena (TI) Iguatemipeguá I. Só em 2014, a partir de uma decisão judicial, os indígenas conseguiram o direito de viver em apenas 90 hectares do total delimitado. Cerca de 60 famílias vivem na região, que tem mais de 40 mil hectares e sobreposição de pelo menos cinco fazendas.
O que os líderes Guarani Kaiowá dizem sobre ataque
O indígena Jânio Kaiowá, da Assembleia Geral do povo Kaiowá e Guarani, informou em redes sociais que se reuniu com o relator da Organização das Nações Unidas (ONU), Albert K. Barume, durante a COP30 em Belém (PA) para tratar sobe o ataque.
Durante a reunião, lideranças relataram a escalada da violência no território e a ausência de medidas de proteção. A comunidade também destacou que a falta de demarcação aumenta sua vulnerabilidade.
A Comissão de Assuntos Indígenas (CAI) e o Comitê de Laudos Antropológicos da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) manifestaram preocupação com os ataques às comunidades Kaiowá de Pyelito Kue e Mbarakay e pediram investigação dos casos e providências das forças de segurança pública e órgãos de direitos humanos.
Famílias relatam pânico e destruição
Uma liderança da comunidade Pyelito Kue, que preferiu não se identificar, disse ao g1 que cerca de 60 famílias foram surpreendidas por tiros disparados por homens armados, apontados como pistoleiros.
“No local há crianças com deficiência, mulheres desmaiaram de susto. O que aconteceu foi cena de guerra, parecia filme de terror. Queimaram nossos barracos, alimentos. Deixaram pessoas feridas gravemente”, relatou.
Segundo a liderança, a área é reivindicada pelos Guarani e Kaiowá e já passou por estudos de identificação: “Fomos delimitados. A área já foi identificada e aprovada pelos estudos.
Equipes da Força Nacional, Polícia Federal e Funai foram acionadas após os disparos. O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) informou que a Força Nacional mantém patrulhamento contínuo na região para prevenir novos confrontos.
No local, a Força Nacional encontrou três vítimas — duas feridas e uma morta — e reforçou o patrulhamento. A Polícia Federal investiga também a morte de um trabalhador rural na mesma região, mas afirmou que ainda não é possível relacionar os casos.
O g1 entrou em contato com a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), que não quis se manifestar. O g1 também tentou contato com o Sindicato Rural de Iguatemi, mas não obteve retorno até a atualização desta reportagem.






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