Publicado em 19/12/2020 às 17:00, Atualizado em 19/12/2020 às 17:53

Rezadores indígenas fazem ritual para afastar coronavírus das aldeias de MS

Cerimônia também marca a consagração da Casa de Rezas, que renasceu das cinzas, após incêndio criminoso

Redação,
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(Foto:Marcos Morandi)

Entoando cânticos ensinados pelos ancestrais, rezadores das aldeias Jaguapiru, de Dourados e Limão Verde, de Amambai, se reuniram neste sábado (19) para o Nhanderu Nhee Nhembojoja, que na língua dos brancos significa Encontro Sagrado de Líderes Espirituais. O ritual Kaiowá começou antes do nascer do sol e foi realizado na Gwyra Nhe’engatu Amba, “Lugar onde o pássaro da Boa Palavra tem Assento”.

Antes de iniciar o ritual sagrado, o rezador Getúlio Juca, anfitrião do encontro, acompanhado pelo também rezador da Aldeia Limão Verde, Atanásio Oliveira, ressaltou que esse tipo de cerimonia para pedir a proteção divina, geralmente é realizado com mais pessoas, mas em virtude da pandemia teve que ser mais restrito. Segundo ele, a intenção é afastar os males provocados pelo coronavírus e que já levou muitos irmãos das aldeias de Mato Grosso do Sul e do Brasil.

Getúlio conta que o Encontro Sagrado de Líderes Espirituais é realizado diante da necessidade de fortalecer os laços com as forças do bem e que, pelo uso da água, pelos cânticos e pela união dos rezadores, o mal pode ser afastado. Entretanto, ele lembra que além das rezas, as aldeias também precisam dos cuidados das autoridades, que precisam melhorar o atendimento aos indígenas.

“Diante desse momento difícil da pandemia, onde os cuidados com a saúde da nossa gente praticamente não existem, temos que unir nossas forças e, dentro do possível e das limitações, usar este espaço sagrado que é a nossa Casa de Reza. Ela é nossa fortaleza espiritual e o nosso refúgio para esse tempo que estamos atravessando”, comentou o rezador da aldeia Jaguapiru.

Depois do Xiru Rerovái, ritual de transferência dos objetos sagrados para a Casa de Reza dos Guarani e Kaiowá, realizado no dia 15 de agosto deste ano e que também foi acompanhado pela reportagem do Midiamax, esta é a segunda vez que o espaço voltou a ser utilizado. “Vamos aproveitar e realizar alguns batizados das nossas crianças. Com esses rituais, elas ficam mais longe do diabo”, explicou Alda Oliveira, esposa do rezador.

O local renasceu literalmente das cinzas após o incêndio criminoso ocorrido em julho do ano passado, por meio de doações e trabalho voluntário. O ataque cometido contra a cultura indígena continua sem solução. A única informação é o que o responsável se embrenhou pala lavoura de milho e nunca mais ninguém teve notícia.

A reconstrução durou seis meses. As obras foram iniciadas em novembro de 2019 e está pronta desde o mês de abril. Entretanto, apesar da cerimônia ritualística feita pelos familiares do rezador da aldeia, a Ongusu, como também é chamada na língua guarani, será inaugurada neste sábado (19), em ritual restrito aos familiares e alguns rezadores.

Fonte - Midiamax