Driene tinha 47 anos.
Não a idade que costumam associar a grandes recomeços. Era a idade das cobranças silenciosas, das expectativas não ditas, dos sonhos guardados em caixas que o tempo insistiu em lacrar. Carregava responsabilidades demais, silêncios longos e um cansaço que não vinha apenas do corpo — vinha da alma.
Ela sempre gostou de ver pessoas correndo. Observava de longe, nos parques, nas ruas ainda adormecidas, nos fins de tarde dourados. Havia algo naquela imagem que a tocava profundamente: gente que seguia em frente, mesmo cansada, mesmo suada, mesmo ofegante. Admirava em silêncio. Pensava que aquilo exigia coragem — e coragem era algo que ela acreditava não ter.
Logo vinham as desculpas, como escudos bem ensaiados: falta de tempo, falta de preparo, falta de incentivo, falta de companhia. No fundo, porém, existia vontade. Faltava acreditar em si.
Os dias começaram a se repetir como páginas iguais de um livro sem emoção. A rotina seguia cheia, mas o coração vazio. O sorriso ficou raro. A solidão se instalou mesmo em meio à rotina intensa. Entre problemas, dores e frustrações, Driene começou a desistir de si própria — não de uma vez, mas em pequenas renúncias diárias.
Até que um dia algo despertou.
Não foi um acontecimento grandioso. Foi um incômodo silencioso e persistente: o coração pedindo cuidado.
Sem saber correr, sem planos, calçou um tênis antigo e saiu. Os primeiros passos foram lentos. O corpo reclamava, a mente pedia para parar. Mas, pela primeira vez em muito tempo, ela respirava fundo.
No início, eram poucos passos. Depois, alguns minutos. Depois, lágrimas misturadas ao suor.
A corrida deixou de ser apenas exercício. Tornou-se abrigo. Tornou-se oração silenciosa. Tornou-se cura.
A cada quilômetro, Driene deixava algo pelo caminho: o medo, a culpa, a tristeza, a sensação de não ser suficiente. O que ficava era força. Era presença. Era vida.
Ela não corria para vencer provas. Corria para se reencontrar. E, sem perceber, enquanto cuidava do corpo, salvava a própria história.
Driene aprendeu que nunca é tarde para começar. Que o primeiro passo — mesmo trêmulo — já é vitória.
E assim, correndo devagar, ela voltou a viver.
“Nunca foi sobre correr mais rápido.
Sempre foi sobre não parar de seguir.”









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