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23/07/2022 às 12:02, Atualizado em 22/07/2022 às 22:14

Nove pessoas são resgatadas em fazendas na região do Pantanal em situação análoga à escravidão

Entre as vítimas, estava um idoso de nacionalidade paraguaia, que vivia há 20 anos em condições de extrema vulnerabilidade

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Local que trabalhadores viviam — Foto: Ministério Público do Trabalho (MPT)

Nove pessoas foram resgatados em condições análogas à de trabalho escravo em três propriedades rurais, localizadas nos municípios de Corumbá e Porto Murtinho, na região do Pantanal de Mato Grosso do Sul.

As vítimas foram resgatadas durante operação conjunta do Ministério Público do Trabalho (MPT), Defensoria Pública da União (DPU) e Ministério do Trabalho e Previdência, por meio da Auditoria-fiscal do Trabalho, e realizada entre os dias 11 e 22 de julho.

Em uma fazenda em Porto Murtinho, um idoso, de nacionalidade paraguaia, foi encontrado em condições de extrema vulnerabilidade.

O idoso estrangeiro era mantido pelo empregador há 20 anos em um alojamento dividindo espaço com animais e agrotóxicos.

Durante depoimento ele disse que os trabalhadores da fazenda bebiam água com resíduos sólidos, e precisavam custear a própria alimentação.

Caso consumissem carne fornecida pela fazenda – cuja principal atividade é a criação de bovinos – um valor era descontado da remuneração mensal, de R$ 1,5 mil.

Ainda conforme o homem, eles tinham acesso à cidade de Bonito (MS), apenas uma vez ao mês, e era conduzido na carroceria de um caminhão da fazenda em uma estrada de chão, por mais de 130 quilômetros.

A exposição do idoso, por mais de duas décadas, a essas condições degradantes, o isolamento geográfico e a exploração irregular de sua força de trabalho, sem que tivesse acesso a diversos direitos trabalhistas ou a oportunidade de promover sua regularização migratória de volta ao Paraguai, levaram a Auditoria-fiscal do Trabalho a caracterizar a situação como análoga a de escravidão.

A condição foi agravada pelo caráter discriminatório em relação aos demais trabalhadores da fazenda, conclusão corroborada pelo procurador do Trabalho Paulo Douglas de Moraes e pelo defensor público federal Rodrigo Esteves Rezende, que participaram da operação.

Uma audiência administrativa foi realizada na sede da promotoria de Justiça de Bonito, entre o MPT, a DPU e o proprietário da fazenda.

O acordo proposto prevendo o pagamento verbas rescisórias no valor de R$ 84 mil ao trabalhador e indenização de R$ 75 mil, foi recusado pelos advogados do fazendeiro.

Diante da recusa em admitir uma solução pela via extrajudicial, além do trabalhador ser imediatamente afastado da propriedade, o MPT e a DPU irão pleitear, em juízo, a integral reparação às lesões materiais e morais suportadas pelo trabalhador por mais de 20 anos.

Já nas outras duas propriedades rurais, ambas localizadas em Corumbá, a conduta dos empregadores foi diferente.

Os proprietários das fazendas se comprometeram, ao assinarem Termo de Ajuste de Conduta (TAC), a pagar cerca de R$ 22,5 mil para cada um dos oito trabalhadores flagrados em condições degradantes, totalizando, entre verbas rescisórias e danos morais individuais, mais de R$ 180 mil, além de mais R$ 80 mil a título de dano moral coletivo a ser revertido na aquisição de bens para o aparelhamento da Polícia Militar Ambiental (PMA) de Mato Grosso do Sul.

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