Publicado em 05/10/2017 às 19:30, Atualizado em 05/10/2017 às 14:49

Medo e vergonha ainda afastam mulheres do exame de mamografia

Em 2017, 37 mulheres morreram de câncer de mama no ano passado, segundo os dados oficiais.

Redação,

Mundialmente, outubro é o mês voltado para a prevenção de uma das principais causas de mortes de mulheres, o câncer de mama. Em Mato Grosso do Sul não é diferente: prédios ganham luzes rosas, panfletos são distribuídos nas ruas e propagandas incentivam o autoexame. Mas, em meio a tantos incentivos e cuidados, a saúde pública da Capital precisa combater um mal ainda maior: a resistência das mulheres ao exame de mamografia. Passados mais de 9 meses de 2017, foi cumprida apenas pouco mais da metade da meta prevista de exames.

É o que informa a enfermeira e gerente técnica em saúde da mulher da Coordenadoria de Rede de Orientação Básica, Indianara ​Leite​. Hoje, o foco das campanhas organizadas pelo porder público são mulheres de 50 a 69 anos, idade com maior incidência de câncer de mama.

Justamente no momento de fazer o que os especialistas chamam de exames de rastreamento, que essas mulheres 'usam' o medo da dor, a vergonha e até a resistência dos próprios companheiros, como motivos para deixar de procurar um médico. "Muitas delas pensam que por não sentirem nada, não precisam procurar um médico. São essas que a gente perde", explicou a enfermeira.

Segundo Indianara, o principal combate do poder público é contra a resistência. A meta da Sesau para 2017 é realizar cerca de 40 mil exames, mas faltando três meses para o fim do ano, pouco mais de 20 mil foram feitos, ou seja pouco mais da metade. O número é ainda mais preocupante quando o assunto é câncer de útero. Longe da meta de 56 mil atendimentos, apenas 20 mil preventivos foram realizados em 2017.

Na Capital, as mulheres que estão na chamada 'faixa de risco' têm acesso fácil e rápido a mamografia. Segundo Indianara, o primeiro passo é procurar uma unidade de saúde. Depois de passar por consulta, a paciente recebe o pedido do exame e na própria unidade, na recepção, marca o exame.

Em três ou quatro dias é submetida a mamografia, que tem até 15 dias para ficar pronta. "Também temos uma parceria com o Hospital de Câncer de Barretos. Lá a mulher pode chegar apenas com a carteirinha do SUS e agendar a mamografia, sem passar por consulta. Do mesmo jeito, temos as carretas da saúde".

Diante da vergonha, do medo e até do machismo dos companheiros, enfermeiros e agentes de saúde são treinados para lidar e convencer as mulheres. "Depois que o exame é feito pela primeira vez, se não houver qualquer alteração, a mulher só precisa repetir a mamografia a cada dois anos", reforçou Indianara.

Mulheres jovens, fora do grupo de risco, também podem ter acesso aos exames, mas nesses casos o procedimento indicado é a ultrassonografia.

Em Campo Grande, do começo do ano até agora, a Sesau (Secretária Municipal de Saúde Pública) já registrou 37 mortes de mulheres por câncer de mama. No ano passado inteiro, o número de mortes chegou a 86.

Foi lá, na tarde desta quarta-feira, que a equipe do Campo Grande News encontrou Sônia Margarete, de 51 anos. Quando tinha 27 anos, ela foi diagnosticada com um nódulo no seio esquerdo. Depois de uma cirurgia e a certeza de que não se tratava de um tumor maligno, continuou com os exames periódicos, ano após ano, até no meio do ano passado percebeu um novo cisto.

Desta vez, o pequeno cisto foi encontrado na mama direita. "O médico me deu duas opções, fazer a punção, ou esperar seis meses para ver a evolução". Mais de um ano depois, Sônia voltou para finalmente fazer a mamografia.

"Fiz a consulta na segunda-feira de manhã, de tarde minha irmã marcou o exame e hoje vim fazer". Para ela, a 'desmotivação' das mulheres com os cuidados com o próprio corpo é resultado da falta de tempo, da rotina cansativa de trabalho. "Sempre falo da importância da prevenção para minha família. Tenho uma filha de 15 anos e desde cedo converso com ela, mas por falta de tempo e medo de faltar o trabalho acabei passando da data de voltar no médico".

No CEM, é a técnica em radiologia Andréia Leite quem faz as mamografias. Servidora da prefeitura a sete anos, conta que já presenciou as mais diferentes histórias e até paciente passando mal de nervoso.

Para ela, a principal maneira para acabar com o medo das mulheres é com carinho. "Precisamos cuidar da paciente, deixar ela a vontade, explicar o que está acontecendo, assim ela se solta e fica mais fácil". Por dia, cerca de 24 pacientes são atendidas no CEM.

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