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17/05/2022 às 09:02, Atualizado em 16/05/2022 às 20:27

Mais de 50 pecuaristas aderem a selos de boi sustentável e orgânico do Pantanal, diz Embrapa

A pecuária é a principal atividade econômica da região pantaneira e vem sendo desenvolvida de maneira extensiva há mais de 200 anos

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Foto - Reprodução Embrapa

A Embrapa Pantanal (MS) e a Embrapa Gado de Corte (MS), em parceria com a Associação Brasileira de Produtores Orgânicos (ABPO), avaliaram a dinâmica do desenvolvimento da cadeia produtiva de bovinos criados em sistema orgânico no Pantanal Sul-Mato-Grossense. Em apenas três anos, de 2013 a 2016, foi registrado aumento acima de 200% no número de animais e na quantidade de carne proveniente dessa cadeia. O número de produtores e abates cresceu mais de 100%. Segundo os autores do estudo, todas as regiões do Pantanal têm vocação para a produção de carne orgânica.

A pecuária é a principal atividade econômica da região pantaneira e vem sendo desenvolvida de maneira extensiva há mais de 200 anos, com a utilização racional dos recursos naturais, principalmente das forrageiras nativas.

“A crescente produção de carne orgânica e sustentável pode ser uma opção capaz de contribuir para que se mantenham as boas condições de conservação ambiental do bioma”, afirma o pesquisador da Embrapa Urbano Abreu, líder das atividades sobre a temática.

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A produção na região atende ainda à demanda do mercado consumidor por produtos obtidos por meio de sistemas de produção ambientalmente corretos e socialmente justos. Isso agrega valor ao produto, além de oferecer uma carne de melhor qualidade ao consumidor. Abreu lembra que uma parcela da população mundial se preocupa com a utilização de compostos químicos na produção animal. “Os processos de pecuária orgânica seguem critérios de qualidade que incentivam a conservação ambiental, a saúde humana, os direitos dos trabalhadores e o bem-estar animal”, destaca, afirmando que há muitas oportunidades no mercado de orgânicos. “Em especial, para os certificados premium e gourmet e de vínculo com a origem”, completa ressaltando que os produtos também ajudam a valorizar o bioma.

Propriedades certificadas

Atualmente, de acordo com Silvio Balduíno, gerente-executivo da ABPO, há fazendas certificadas em produção de carne orgânica e sustentável em todas as regiões pantaneiras do Mato Grosso do Sul . As marcas Korin, Wessel, Malunga, Farmi, Taurinos e Bio Carnes já comercializam o produto nos mercados interno e externo. Há seis indústrias frigoríficas credenciadas para fazer o abate desses animais: Boibrás Ind. Com. Carnes e Sub Produtos Ltda. (São Gabriel do Oeste), Frima Frigorífico Marinho Ltda (Corumbá), JBS (Campo Grande), Frigo Balbinos (Sidrolândia), Frizelo Frigoríficos Ltda. (Terenos) e Naturafrig Alimentos Ltda (Rochedo).

Pesquisas em pecuária orgânica e sustentável

A produção de carne orgânica no Pantanal iniciou-se com a formação da ABPO, que elaborou um protocolo de produção, no qual foram incorporados os conceitos de qualidade e sustentabilidade nas bases social, ambiental e econômica. A Embrapa Pantanal e a ABPO são parceiras desde a fundação da associação, em 2001. Os pesquisadores da Embrapa, juntamente com parceiros da ABPO e WWF, deram início às pesquisas relacionadas à produção de pecuária orgânica no Pantanal em 2004. Ao longo desses mais de 15 anos, foram realizados estudos de casos de implantação e desenvolvimento de sistemas orgânicos no Pantanal, com levantamento de custos e análises dos pontos que apresentam necessidade de pesquisa analítica do sistema de produção. Quem organiza e decide sobre os sistemas são os produtores pantaneiros.

O estudo avaliou a quantidade de carne orgânica produzida, número de produtores, reses e lotes abatidos em Mato Grosso do Sul (de 2013 a 2016). A análise mostrou a evolução da cadeia produtiva da carne orgânica: gargalos, oportunidades e demandas, além da taxa de crescimento médio. As avaliações mostraram um crescimento acima de 200% no número de animais e da quantidade de carne dessa cadeia produtiva, e acima de 100% no número de produtores e de abates. Os números avaliados em apenas três anos mostram que o interesse do consumidor por esse tipo de carne diferenciada é crescente.

Por outro lado, o peso médio individual das carcaças diminuiu 0,6%, provavelmente refletindo o direcionamento da ABPO em trabalhar com fêmeas mais jovens com melhor acabamento. Esse aspecto é de fundamental importância para a análise da eficiência econômica desses sistemas de produção. Isso porque a redução da idade do animal ao abate pode levar ao aumento da produtividade por unidade de área pelo uso mais eficiente do espaço das fazendas, com menor tempo e custo de produção.

Isso mostra que a adoção de novas tecnologias será necessária para o desenvolvimento das cadeias da carne orgânica e sustentável visando o aumento da produtividade e redução de perdas. As informações geradas possibilitam direcionar o crescimento dessa cadeia de forma mais eficiente com o objetivo de gerar lucro.

Vários criadores pantaneiros vêm se associando, com o objetivo de se beneficiar desse sistema natural de criação e procurando alternativas tecnológicas para aumentar a produtividade animal. Após o marco legal da Carne Sustentável do Pantanal de Mato Grosso do Sul, ocorrido em novembro de 2018, e, apesar da pandemia, o mercado se organizou. E no período de junho de 2020 a maio de 2021 ocorreu crescimento exponencial dos abates mensais com certificação de carne sustentável.

Cadeia produtiva da carne orgânica e sustentável do Pantanal

Em 2018, o governo do estado de Mato Grosso do Sul aprovou legislação que oficializa o incentivo fiscal para produção de carne orgânica, com a criação do subprograma Carne Sustentável e Orgânica do Pantanal, no âmbito do Programa de Avanços na Pecuária de Mato Grosso do Sul (Proape), por meio da Resolução conjunta Sefaz/Semagro nº 74, de 22 de novembro de 2018 (Mato Grosso do Sul, 2018).

A certificação de Carne Sustentável da ABPO segue o protocolo registrado junto ao CNA. O subprograma foi criado junto com a ABPO e tem por objetivo fomentar a competitividade e incentivar a pecuária bovina de baixo impacto ambiental no Pantanal. Essa política estimula a produção baseada no modelo tradicional, com baixo nível de intervenção nos recursos naturais existentes na região para linha de produtos característicos e diferenciados, com maior agregação de valor e devidamente certificados, por empresas independentes de terceira parte acreditadas pelo Inmetro.

Em paralelo, as normas do programa da carne orgânica segue o protocolo nacional de propriedades que se enquadram na lei federal do Sistema Brasileiro de Conformidade Orgânica. O IBD Certificação é quem faz a certificação dos dois programas.

Apesar de todas as restrições causadas pela pandemia da Covid 19, que afetou todos os elos da cadeia da produção agropecuária, a cadeia da carne bovina apresentou bom desempenho. Foi observado pela pesquisa que, após o marco legal da carne sustentável em Mato Grosso do Sul, no final do ano de 2018, o mercado se organizou. E no período de 2019 a maio de 2021, houve um crescimento significativo no número de abates mensais, especialmente de abates de animais com certificação de sustentável.

Segundo a Chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Pantanal, Cátia Urbanetz, o trabalho da empresa desenvolvido sobre o tema tem favorecido o desenvolvimento da cadeia produtiva na região.

“A geração de informações técnicas e análises realizadas pela Embrapa Pantanal em parceria com a ABPO embasaram políticas estaduais de isenção fiscal de 67% do imposto devido em operações com bovinos orgânicos certificados. Isso gerou impacto econômico para os produtores rurais, reafirmando o papel relevante da instituição junto a eles e ao governo do estado de Mato Grosso do Sul”, afirmou Cátia Urbanetz.

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