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03/04/2021 às 09:00, Atualizado em 02/04/2021 às 22:42

Escassez de madeira ameaça produção de Mato Grosso do Sul

Demanda de indústrias por eucalipto e interesse de produtores rurais por terras podem prejudicar produção

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Há 1,4 milhão de hectares plantados de eucalipto - Álvaro Rezende/Correio do Estado

Mato Grosso do Sul é o 1º no ranking de exportação de celulose do País e o 3º em área de florestas plantadas, com cinco municípios entre os 10 maiores produtores do Brasil.

Apesar dos números positivos, a produção de eucalipto pode ser insuficiente com o aumento da demanda e do interesse de indústrias do setor, além da procura e disputa de pecuaristas e produtores rurais por terras no Estado.

“A longo prazo, a produção e a disputa por madeira podem ficar ainda mais apertadas, terras que poderiam ser ocupadas na plantação de eucaliptos para atender à demanda que já existe também estão sendo visadas por produtores e pecuaristas que desejam se instalar no Estado”, explica o engenheiro florestal Rafael Costa Mariano.

A base florestal em Mato Grosso do Sul representa atualmente 7% do PIB estadual, com uma receita bruta considerando florestas plantadas, móveis e produção de celulose, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O Estado é o maior exportador brasileiro de celulose, com cerca de US$ 1,6 bilhão no ano passado ou 27% do total nacional.

“Estamos em uma região privilegiada de exploração, o impacto está refletindo na economia, a cada ano temos mais recordes na lavoura e nas exportações, porém, é fundamental termos cuidado com questões ambientais”, pontuou o engenheiro.

Diferente de outros países e locais onde o eucalipto pode demorar até duas décadas para crescer e evoluir suficientemente, em Mato Grosso do Sul a árvore se desenvolve mais rápido – entre seis e sete anos. O que desperta atenção de novos empresários.

“Se continuarmos neste ritmo, teremos uma demanda muito grande de terras e, também em relação a valores, teremos um aumento significativo nos preços. Temos muita área para ser explorada, novos empreendimentos chegam muito forte na região, temos campo fértil para investimento”, ressaltou Mariano.

De acordo com o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, em 2019, a área plantada de eucalipto em terras sul-mato-grossenses estava em 1,125 milhão de hectares. Atualmente, já chega a 1,4 milhão de hectares.

“Queremos que o eucalipto seja industrializado no Estado. Estamos trabalhando para garantir que não falte produto e, com os preços atuais, haja retorno do plantio”, destacou Verruck.

INDÚSTRIAS

Duas das maiores indústrias de celuloses no mundo estão localizadas em Três Lagoas, Eldorado e Suzano, e os municípios vizinhos, Ribas do Rio Pardo, Água Clara, Brasilândia e Selvíria, estão entre os 10 maiores produtores do País.

Eldorado possui capacidade de produção de 1,7 milhão de toneladas de celulose por ano, 40% delas destinadas ao mercado asiático. A companhia emprega 4 mil pessoas e teve receita de R$ 4,3 bilhões em 2019.

Referência global na fabricação de bioprodutos desenvolvidos a partir do cultivo do eucalipto, a Suzano comercializou 10,8 milhões de toneladas de celulose em 2020, volume 15% superior ao de 2019. Os negócios totais atingiram 12 milhões de toneladas, crescimento de 12% em relação ao ano anterior, o que contribuiu para o faturamento de R$ 30,5 bilhões na última temporada, 17% a mais do que em 2019 (R$ 26 bilhões).

Em breve será instalada a Paracel, em Concepción, no Paraguai. Para o novo empreendimento florestal, serão investidos mais de US$ 3,3 bilhões e plantados cerca de 135 mil hectares de eucalipto. Diante da necessidade da madeira, a empresa também deve suprir a demanda em terras de Mato Grosso do Sul para a sua produção.

Marcelo Schmid, sócio diretor do Grupo Indez e da Forest2Market do Brasil, empresas que atuam no setor da cadeia de produção florestal, explicou ao Valor Econômico que a demanda atual é de 18 milhões de toneladas anualmente em Mato Grosso do Sul, sendo 17 milhões de toneladas destinadas à produção da celulose.

Contudo, na visão dele, a fábrica que deve se instalar no Estado fará a demanda subir consideravelmente, chegando à marca de 35 milhões de toneladas, pois, além de novas fábricas, também existe a possibilidade de expansão da Eldorado.

“O principal desafio das novas empresas de celulose que buscam Mato Grosso do Sul será a logística e a gestão. Já existe a demanda que é maior que a capacidade, as indústrias Suzano e Eldorado são potências no Estado e favorecem a economia com a produção”, reiterou Rafael Costa Mariano.

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