Publicado em 25/03/2021 às 16:36, Atualizado em 25/03/2021 às 13:38

Em um ano, mortes por Covid-19 no MS superam total de óbitos provocados pela Aids em 39 anos de registros

A Aids foi a doença provocada por vírus ou bactéria que mais matou brasileiros de 1996 a 2019

Redação,

Em pouco mais de um ano, o número de mortes provocadas pela Covid-19 em Mato Groso do Sul superou o total de vítimas da Aids desde 1980, segundo dados do Ministério da Saúde.

Com as 20 mortes confirmadas na quarta-feira (24), o estado chegou à marca de 3.915 óbitos por coronavírus durante toda a pandemia, superando as 3.911 mortes relacionadas ao HIV/Aids entre 1980 e 2019, 39 anos.

A Aids foi a doença provocada por vírus ou bactéria que mais matou brasileiros de 1996 a 2019, à frente de outras patologias como tuberculose, meningite e doença de Chagas.

O levantamento do Ministério da Saúde divulgado em 1º de dezembro do ano passado, Dia Mundial de Luta Contra a Aids, leva em consideração as mortes registradas pela doença até dezembro de 2019, exatamente quando os primeiros casos de Covid foram confirmados na China.

Tanto a Aids quanto a Covid-19 são transmitidas por vírus, porém de formas diferentes. Um indivíduo se infecta com o HIV unicamente por meio de fluidos corporais (sêmen, sangue e leite materno). Já o novo coronavírus é transmitido por meio de gotículas respiratórias suspensas no ar, por meio do toque em superfícies contaminadas e o contato pessoal.

Outras diferenças entre as doenças são a velocidade das mortes e o tratamento. Levando em consideração os óbitos apontados no boletim do Ministério da Saúde, a média anual é de 100 mortes por HIV/AIDS nos últimos 39 anos. Segundo a secretaria estadual de Saúde (SES), entre sábado (20) e quarta-feira (24), foram 116 vidas perdidas por covid no estado.

O médico do Centro de Testagem e Acompanhamento (CTA) da secretaria de Saúde de Campo Grande, Roberto Paulo Brás Junior, aponta que a Aids continua matando, mas tem tratamento. “A gente costuma falar que a Aids é a epidemia que não acabou. Ela começou nos anos 80 e causou muitas vítimas. Só que a diferença é que hoje ela tem um tratamento eficaz, um tratamento que pode fornecer qualidade de vida para as pessoas”, afirma Júnior.

Tratado com antirretrovirais, o HIV se tornar indetectável no organismo. “Quando a pessoa faz o uso regular dos medicamentos ela consegue diminuir o número de vírus que tem no sangue a praticamente zero, que é a chamada carga viral indetectável. Neste nível, temos muitas vantagens. A primeira delas é que ela não vai evoluir para a Aids, que é a síndrome causada por outras infecções oportunistas. Além disso, a pessoa também não vai transmitir o vírus através da relação sexual. É o que a gente conhece hoje em dia como indetectável igual intransmissível”, complementa o médico.

Apesar da busca incessante por um tratamento eficaz contra o coronavírus, nem mesmo medicamentos usados para outras infecções, como o Remdesivir para tratar o Ebola, convencem especialistas. O médico infectologista, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e pesquisador da fundação Oswaldo Cruz, Júlio Croda, destaca que não há nenhum estudo de efetividade desta medicação no Sistema Único de Saúde (SUS).

“O medicamento não altera a mortalidade, não impacta e não reduz o número de óbitos. O tratamento completo fica em torno de R$ 20 mil e o impacto maior seria no custo em termos de ocupação hospitalar. Ou seja, diminuir o número de dias do paciente internado, poderia de alguma forma dar uma maior rotatividade naquele leito de UTI. O remdesivir não tem nenhum estudo de custo de efetividade no SUS, para avaliar o seu papel no sistema público. Então, tem que ter muito cuidado na prescrição dessa medicação”, afirma.

O infectologista reforça a necessidade de medidas de restrição para evitar a transmissão do coronavírus e assim, diminuir o número de casos e mortes por Covid-19. “Para ver uma redução no número de óbitos, é preciso primeiro ver uma queda no número de casos. Se a gente implementar alguma medida mais radical de controle da pandemia neste momento, o impacto vai ser em duas semanas. Quanto mais a gente postergar essas medidas, mais sofrimento a gente vai gerar, porque pessoas que poderiam de alguma forma não adquirir a doença, não terão acesso ao sistema de saúde por conta das opções que foram feitas, principalmente, na contenção da pandemia”, garante.

Outra diferença entre as duas doenças é a vacina. Enquanto o imunizante que pode prevenir o HIV está em estudo há mais de uma década e iniciou recentemente a fase 3 (final) de testes no mundo, em menos de um ano os cientistas desenvolveram vacinas eficientes que protegem a população das formas graves da covid. Segundo a SES, foram aplicadas 330.110 doses de vacinas contra a Covid no estado, sendo 243.472 a primeira dose e 86.638 a segunda dose.

Com informações do G 1 MS