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16/06/2018 às 16:38, Atualizado em 16/06/2018 às 11:40

Surpresa do ano de Tite, Ismaily ainda confia em retorno à Seleção

Quarto de MS a jogar no Brasil falou sobre a Copa.

Dentre todos os 64 jogadores pelo técnico Tite na Seleção Brasileira desde o início de seu trabalho, em agosto de 2016, nenhum deles foi mais controverso que o do lateral-esquerdo Ismaily. Com 28 anos, o quarto sul-mato-grossense a defender a equipe canarinha ganhou as manchetes em março, quando o comandante do selecionado nacional precisou de um substituto para Felipe Luís, que está na Copa do Mundo, e Alex Sandro, da Juventus (Itália), para a reserva do titular incondicional Marcelo, garantido na Rússia.

Os meses passaram, a lista final foi anunciada e Ismaily, que sequer entrou em campo nas vitórias sobre Rússia e Alemanha, perdeu a remota chance de defender o Brasil em uma Copa, como fez Muller, tetracampeão em 1994, até hoje o único do Estado a alcançar o feito.

Situação diferente dos seus colegas de Shakhtar Donetsk, o volante Fred (agora vendido ao milionário Manchester United) e o atacante Taison, nomes que geraram o maior número de reclamações por parte da torcida, cuja preferência passava por opções que atuam no Brasil, como os gremistas Arthur e Luan e o flamenguista Lucas Paquetá.

Na véspera de seu embarque de volta à Ucrânia, neste sábado (16), Ismaily falou com exclusividade ao Portal Correio do Estado. E garantiu: a convocação dos 'ucranianos', para os amistosos e o Mundial, não foi à toa. Segundo ele, desde o início do trabalho, Tite enviou auxiliares e foi pessoalmente ao Shakhtar acompanhar os segredos do time, imbatível em seu país. Nesta temporada, por exemplo, faturou a tríplice coroa: campeonato nacional, copa e recopa."A convocação fechou com chacve de ouro uma temporada perfeita", admitiu.

"As coisas acontecem no tempo certas", disse Ismaily. "O professor Tite mostrou que acompanha o trabalho nos clubes, sempre vê os jogos. E depois de ter sido chamado uma vez, o objetivo é ser chamado outras vezes. É minha principal ambição, trabalhar firme e se firmar com a Seleção", disse.

O lateral, no entanto, admite ele mesmo que o caminho é árduo. Considerando justa a escolha de Tite por Marcelo e Felipe Luís, Ismaily torcerá pela Seleção sem ressentimentos, apostando nela como favorita. "O grupo está muito bem servido", disse. "É o objetivo de qualquer jogador chegar na Seleção e comigo não era diferente. Foi marcante estar com o grupo, poder treinar com ele. Muito aprendizado e conhecimento. O professor Tite me surpreendeu muito pelos treinamentos, da forma como lida com os jogsadores, é um cara que motiva muito, sempre pede e exige o máximo. Tenho certeza que o Brasil terá coisas grandes pela frente. Vai dar muito trabalho."

VIDA NO LESTE EUROPEU

Desde 2013 na Ucrânia, onde chegou após passagens por diversos clubes portugueses, Ismaily é um profundo conhecedor de uma faceta menos festiva dos povos da extinta União Soviética, bloco comunista encerrado em 1991 e comandado justamente pelos russos, mandantes da atual Copa, após uma revolução vencida em 1917.

Tantos anos de dominação russa sobre os ucranianos, com históricos de insurgência e colaboracionismo aos maiores rivais soviéticos (nazistas na Segunda Guerra Mundial e capitalistas na Guerra Fria), com severas represálias de Moscou, não ficaram impunes após a elevação da Ucrânia como país, em 1992, e desde então conflitos são registrados costumeiramente entre as duas nações.

À leste da Ucrânia, justamente na fronteira com a Rússia, Donetsk, onde mora o sul-mato-grossense, é epicentro contrário do sentimento nacionalista. A cidade é vizinha da Criméia, região autônoma, que se recusa a aceitar o ucraniano como idioma, o trata como dialeto do russo, e defende sua reintegração ao território moscovita. Foi palco no final do Século XIX da primeira grande guerra ucraniana pela sua independência, na época do império russo. Milhares de ucranianos foram mortos e tratados como cidadão de segunda classe dentro do governo então vigente.

Apesar dos conflitos costumeiros na Criméia, Donetsk, embora pró-Rússia por ter sido dominada e destruída pelos alemães na década de 1940 e depois alvo de grandes investimentos soviéticos para sua reconstrução, um contraponto aos castigos impostos pelo regime ao resto do território ucraniano, como privação de alimentação, por exemplo, é um paraíso verde e pacífico em meio às suas imensas indústrias, cujos operários formaram os pilares dos comunistas para garantir a adesão da região à revolução que culminou com a criação da União Soviética.

"Nos últimos anos a rivalidade (Rússia x Ucrânia) ficou mais acirrada por conta da guerra. A situação piorou um pouco, percebemos que as relações foram completamente cortadas (entre os dois povos), até as familiares. No entanto, justamente aárea de maior conflito é omnde estão os ucranianos mais apegados à Rússia. O norte é mais apegado ao estilo européu de vida, por isso achoq ue essa rivalidade não vai atrapalhar em nada a Copa", disse Ismaily.

Para o sul-mato-grossense, contudo, o brasileiro que for ver a Copa pessoalmente precisa se precaver. "Claro que o povo russo não é tão leve e hospitaleiro como o brasileiro. Então não espere a mesma recepção aos estrangeiros como na Copa aqui. Mas acredito que vai ser tranquilo", disse.

Apesar do histórico sde revoluções e conflitos da região, Ismaily não tem do que reclamar. Se no começo as temperaturas de até 18 graus negativos assustavam o jovem nascido em Angélica, onde neste inverno, considerado rigoroso para os padrões locais, está previsto 12 graus nos termômetros.

Tanto tempo depois, com sistema de aquecedor instalado em casa, fundamental para matar as saudades da terra natal com o tradicional tereré, consumido mesmo na neve, e muita ajuda dos brasileiros, que o fez superar até as divergências com o confuso idioma e alfabeto usados na Ucrânia, Ismaily chegou até a ser cogitado pelo ex-atacante e eterno ídolo do Milan (ITA), Andreiy Shevchenko, técnico da seleção local.

"De fato houve interesse para a naturalização. Conversei com o Shevchenko, que manifestou o interesse, deixei aberta a situação, mas ficou difícil com a convocação (para o Brasil). Claro que dependendo da aceitação ainda pode acontecer, mas meu maior desejo é trabalhar forte para voltar à Seleção", disse.

FUTURO

Retomando os treinos no Shakhtar com o objetivo prioritário de voltar à Seleção, Ismaily não esquece do futuro. Segundo ele, alguns outros clubes demonstraram interesse em seu futebol após a convocação e conversas podem surgir.

Já que detalhes não podem ser revelados, o lateral não esconde os planos para o fim de carreira. Acompanhando o futebol local pela internet, principalmente o Ivinhema, onde se sagrou campeão estadual de 2008, como atacante, Ismaily lamenta a falta de investimentos do empresários locais e o grande número de jogadores que poderiam ter a mesma trajetória que ele e se veem obrigados a encerrar a carreira precocemente para trabalhar em empregos com salários fixos e assim ter o sustento garantido. "O futebol do Estado perde muito com isso", disse.

Sem prometer nada, contudo, revela que sua colaboração em uma hipótetica volta ao esporte sul-mato-grossense seria nas quadras e não nos gramados, onde seu pai, o ex-atacante Didi, brilhou pelo Estado. "É um esporte que eu amo muito e tenho essa vontade de disputar campeonatos nele representando o Estado", disse.

Enquanto esse tempo não chega, contudo, o lateral aproveiota os dias no Brasil para matar saudade dos pais, familiares e amigos. Mais reconhecido nas ruas por conta da Seleção, diz que o time de Tite ajudou, mas não é tudo. Pudera. Desde o nascimento do filho, há quatro anos, Ismaily cumpre uma promessa feita e doa cestas básicas às famílias carentes de Angélica. Na lista de ajuda, estão ainda igrejas católicas e hospitais da região. "A gente é abençoado por Deus por ter uma condição financeira melhor e poder retribuir para a sociedade, com uma alimentação digna às famílias", completou.

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