Publicado em 22/07/2014 às 17:07, Atualizado em 27/07/2016 às 11:24

Dunga volta e promete mudar postura dele e da seleção, mas não o futebol

Nova Notícias - Todo mundo lê

Redação, BBC Brasil

A partir desta terça-feira, 22 de julho de 2014, começa a quarta "Era Dunga" na história da seleção brasileira. O ex-volante, campeão do mundo em 94, foi anunciado como novo técnico do Brasil após a saída de Luiz Felipe Scolari, em coletiva na sede da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), no Rio de Janeiro.

Se chegar até 2018 no cargo, Dunga será o "líder" da seleção brasileira em um Mundial, seja dentro ou fora do campo, pela quinta vez em um período de 28 anos (oito Copas do Mundo). Na Copa de 90, quando o Brasil ficou marcado pelo futebol "feio" e defensivo, Dunga não carregava a braçadeira de capitão, mas virou o símbolo da derrota. Foi cunhada a expressão "Era Dunga" para simbolizar o que dera errado. A redenção veio com o tetra, quatro anos depois, e a taça erguida nos Estados Unidos. Dunga foi capitão também em 98, quando o Brasil perdeu a final para a França.

Como técnico, ele levou o Brasil a títulos da Copa América (2007) e da Copa das Confederações (2009), antes de perder nas quartas de final do Mundial-2010 para a Holanda. O discurso do retorno, em busca da segunda redenção, foi de mudança de postura, especialmente na desgastada relação com a imprensa.

"Dificilmente uma pessoa muda em seus princípios, os meus são a ética, comprometimento, lealdade, transparência, trabalho. Mas todos evoluímos, pensei muito nestes últimos quatro anos e avaliei o que aconteceu. Uma meta é fazer as pessoas mudarem o que pensam a meu respeito. Nelson Mandela tinha tudo contra, não mexeu em uma arma e conseguiu mudar (o que as pessoas pensavam sobre ele). Espero ter 1% da paciência dele para mudar isso", falou Dunga em sua coletiva de apresentação.

A BBC Brasil conversou, antes da entrevista desta terça-feira, com dois ex-companheiros e amigos de Dunga, que estiveram tanto no fracasso de 90 quanto na redenção de 94. Jorginho, ex-lateral e hoje treinador nos Emirados Árabes Unidos, foi o auxiliar técnico de Dunga no ciclo de 2007 a 2010. Ricardo Rocha, ex-zagueiro, hoje é comentarista. Nenhum dos dois acredita em mudanças importantes no jeito de ser do novo comandante da seleção, mas relatam que o amadurecimento ajudou o Dunga de 94 a ter sucesso e superar o fracasso de quatro anos antes.

"A gente aprendeu com os erros. Dunga teve liderança na hora de definir a premiação antes de viajar, que foi uma das grandes polêmicas em 90. A liderança dele aumentou, ele estava mais experiente", relata Jorginho. "Ele viveu a seleção 12 anos como jogador, mais 4 como treinador. É um cara fácil de lidar, ele respeita o jogador e, por isso, é respeitado. Está experiente em relação a isso, é um cara equilibrado e que consegue valorizar todo mundo. E o jeito dele é esse, ele não guarda nada, põe tudo pra fora, se ele não gostou de uma pergunta, vai falar na hora. É um cara muito autêntico."

"Esse caráter, a garra, a vontade de ganhar, essa atitude nunca mudou (de uma Copa a outra). Ninguém muda de uma hora para outra muita coisa", conta Ricardo Rocha. "Ele foi muito execrado (em 90), então ele foi trabalhando a cabeça dele, porque virou o símbolo do mau futebol e era um momento difícil. A liderança ele sempre teve, nunca mudou o estilo, gosta de ganhar. Ele tem esse gênio mais forte, aquele jeito ranzinza, mas só quem conhece o Dunga sabe... é um cara gente boa."

A arte de roubar bolas

Depois de estrear como técnico de futebol justamente na seleção, Dunga teve outra experiência no clube que o revelou, o Internacional, em 2013. Mas ficou lá por apenas dez meses, conquistando o Campeonato Gaúcho. Foi dispensando durante o Brasileirão. Ele tem mais jogos na carreira como técnico da seleção do que no universo dos clubes.

No período em que teve Dunga no comando, a seleção brasileira apresentava um jogo compacto na defesa e que explorava muito a velocidade nos contra ataques. As primeiras declarações do novo técnico indicam que a tendência será essa para o próximo ciclo.

"É muito legal falar em futebol arte, mas um goleiro fazer uma boa defesa também é arte, um zagueiro roubar uma bola também é arte. O Brasil sempre vai ter jogador de grande talento, mas tem que aliar esse talento ao comprometimento, ao trabalho, organização e equilíbrio emocional", falou Dunga.

"Todos falam em futebol ofensivo e pensam que isso é colocar quatro ou cinco atacantes. Na Copa do Mundo, as equipes marcaram cinco, dez metros atrás da linha do meio de campo. A única equipe que jogou ofensivamente neste Mundial foi o Chile, as demais equipes jogavam atrás, fechadinhas, buscando o contra ataque. Todo treinador começa organizando a parte defensiva para depois pensar na parte ofensiva."

Nova era

Dunga chega para assumir o Brasil em um momento de clamor por "renovação" no futebol jogado aqui. Em 2006, a "exigência" era por mais comprometimento dos jogadores com a camisa da seleção.

Na Copa da Alemanha, a estrelada seleção que tinha Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Adriano e companhia havia perdido para a França nas quartas de final e Dunga substituiu o então técnico Carlos Alberto Parreira para dar uma "cara nova" ao time brasileiro. Agora, o vexame histórico vivido na Copa do Mundo em casa, com a derrota por 7 a 1 para a Alemanha em pleno Mineirão, abriu a discussão sobre uma possível "reformulação" no futebol.

"Nós gostamos de falar de talento, mas elogiamos e muito a organização e o planejamento da Alemanha. Então nós devemos buscar dentro dessa organização o futebol com características do futebol brasileiro dentro do campo, com talento e qualidade", disse Dunga.

O novo técnico deixou nas entrelinhas, no entanto, que, assim como fez no ciclo entre 2006 e 2010, exigirá uma postura diferente dos jogadores da seleção.

"Teve muita coisa boa dessa Copa, mas outras que teremos que modificar. Vimos quanto é importante talento, mas também quanto é importante o planejamento. O marketing é importante, mas tem que ter resultado dentro de campo também".

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