A recessão econômica brasileira deve permanecer durante os quatro anos do governo de Dilma Rousseff (PT), segundo o cenário mais provável traçado para o País pelo economista Eduardo Giannetti da Fonseca.
Giannetti avalia que a contração na economia é bem mais grave que as outras quatro ocorridas desde 1999, com a crise cambial brasileira, passando por 2001, com apagão energético, 2002 e 2003 com a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, mais recentemente, com o impacto local da crise mundial de 2008 e 2009.
Essas crises anteriores duraram de dois a três trimestres e em cerca de cinco trimestres o PIB (Produto Interno Bruto) tinha voltado ao nível anterior de crescimento. Acho muito difícil isso acontecer agora, pois estamos em uma situação bem mais grave que as anteriores.
O economista, que se pronunciou durante o seminário Agenda Ribeirão, em Ribeirão Preto, interior de são Paulo, disse que a crise atual não é cíclica e sim estrutural.
Há a perda de investimento do setor privado, um ambiente externo que não colabora e, ao mesmo tempo, há um governo que nasce extremamente fragilizado como implementador da correção de rota.
Gianetti, que colaborou no plano de governo do ex-candidato a presidente Eduardo Campos (PSB), morto em agosto de 2014, e da sucessora Marina Silva (PSB), derrotada ainda no primeiro turno das eleições para presidente, reconheceu que o ministro Joaquim Levy, da Fazenda, faz esforço fiscal "não trivial".
No entanto, para ele, a obtenção de um superávit primário estimado em 0,6% para 2015 deve ser insuficiente para evitar a perda do grau de investimento brasileiro, por conta do aumento da dívida pública bruta, principal alvo de observação das agências de classificação de risco.
O esforço fiscal de 2015 será de 1,2% do PIB, ou seja, sairemos de déficit primário de 0,6% em 2014 para 0,6% de superávit primário este ano. Mas como esse esforço fiscal é menor do que o aumento do gasto com juros com a dívida pública, de 1,7% do PIB, está ficando cada vez mais perto o momento que vamos perder o grau de investimento.
Durante palestra, Gianetti traçou ainda dois outros cenários para a economia brasileira no futuro. No cenário otimista, o governo "conserta o brinquedo [economia] na primeira metade do mandato e depois arrebenta de novo para tentar eleger o sucessor", afirmou.
Já o cenário "de horror, mas pouco provável" nas palavras de Gianetti, a crise se aprofunda e o governo, acuado politicamente, "dá uma guinada populista e adota medidas como ocorreu na Venezuela ou na Argentina".
Para Gianetti, ao contrário do cenário local, o contexto econômico externo hoje é mais positivo e 2015 será o primeiro ano desde a última crise que todos os países desenvolvidos vão voltar ao crescimento.
A política monetária dos Estados Unidos está em vias de normalizar e o FED (banco central norte-americano) vai voltar a subir juros. Além disso, a China não está na iminência de colapso como o mercado de capitais imaginou e deve ter um crescimento mais baixo, mas mais balanceado, calcado no consumo doméstico, como no passado.
O crescimento da China pelo consumo, principalmente de alimentos, e a ascensão cada vez maior da Índia são, segundo Gianetti, os poucos pontos positivos para o Brasil, grande produtor e exportador de alimentos.
O Brasil é muito bem posicionado e será um player global.
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