Na noite desta Sexta-feira Santa (18), o Vaticano realizou a tradicional Via-Sacra no Coliseu de Roma com reflexões escritas pelo papa Francisco, que, por motivos de saúde, não participou presencialmente da cerimônia. Em suas meditações, o pontífice fez duras críticas às lógicas econômicas atuais, guiadas por algoritmos e interesses frios, e exaltou a “economia de Deus”, baseada no cuidado, na reconciliação e na responsabilidade.
“Em um mundo de algoritmos, a economia de Deus não descarta, mas repara”, escreveu Francisco. Segundo o papa, o caminho da cruz representa a descida de Cristo “em direção ao mundo que Deus ama”, um gesto de entrega que contrapõe a indiferença e o egoísmo tão presentes nas estruturas humanas atuais.
O rito foi presidido pelo cardeal Baldo Reina, vigário geral da Diocese de Roma, substituindo o papa, que segue com a saúde fragilizada. A decisão de não comparecer foi tomada como forma de preservá-lo para as celebrações do fim de semana pascal.
Um chamado à reconciliação
Nas meditações lidas durante o trajeto simbólico das estações da cruz, Francisco apontou a cruz como símbolo de união, que “derruba os muros, cancela as dívidas e estabelece a reconciliação”.
“Cristo, pregado, se coloca no meio das partes, entre os opostos, e os leva ao Pai. Diante das economias desumanas, feitas de cálculos, lógicas frias e interesses implacáveis, a mudança de rumo é voltar-se para o Salvador”, destacou.
O pontífice criticou ainda a postura de fuga diante das responsabilidades humanas e espirituais. “Temos fôlego curto de tanto evitar responsabilidades. Mas bastaria não fugir e permanecer”, disse, ressaltando a importância de criar vínculos como forma de sair da prisão do egoísmo.
“Economia divina” em contraste com o mundo atual
Francisco também propôs um olhar mais profundo para a realidade social e econômica. “A economia de Deus não mata, não descarta, não esmaga. É humilde, fiel à terra. É o caminho de Jesus, o das Bem-aventuranças, que não destrói, mas cultiva, repara, protege.”
Segundo o Vaticano, a Via-Sacra deste ano buscou enfatizar que o caminho da cruz é também uma resposta ativa ao sofrimento humano, um gesto de solidariedade e presença diante das dores do mundo.
As palavras do papa chegam em um momento de grande inquietação global, marcado por conflitos, desigualdades e um avanço tecnológico que, em muitos casos, desumaniza relações. Com sua mensagem, Francisco reforça sua missão de propor uma espiritualidade do cuidado e da compaixão.
O pontífice deve retomar sua participação nas celebrações da Páscoa no domingo (20), dependendo de sua evolução clínica.
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