Publicado em 06/03/2020 às 16:33, Atualizado em 06/03/2020 às 13:45

Corrupção levou 37 policiais para a cadeia nos últimos dois anos

Contrabandistas de cigarros pagam propinas; ontem, foram presos 5 policiais rodoviários federais.

Redação,
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Os superintendentes Luiz Alexandre Gomes, da PRF, Cléo Mazzotti, da PF, e Nilson Zanzarin, delegado-chefe, durante entrevista - Foto: Valdenir Rezende / Correio do Estado

O contrabando de cigarros fabricados no Paraguai é a principal origem da corrupção policial em Mato Grosso do Sul. Nos últimos dois anos, a Polícia Federal e o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), com o apoio das corregedorias das polícias Rodoviária Federal, Civil e Militar, prenderam 37 policiais em ações de combate às organizações criminosas que atuam no sul e no sudoeste do Estado. O faturamento apenas de uma das quadrilhas, denominada “Máfia do Cigarro”, superou R$ 1,5 bilhão no mesmo período.

Ontem, a Polícia Federal, com o apoio da Polícia Rodoviária Federal, cumpriu cinco mandados de prisão preventiva contra policiais que ajudavam a passar cargas contrabandeadas de cigarro na região sul do Estado. Com esses cinco policiais presos, muitos deles durante o trabalho, nos postos de patrulhamento na BR-163 e na BR-267, chega a 17 o total de policiais presos pela Polícia Federal desde o fim de 2018. O Gaeco, em uma operação desencadeada em 2018, prendeu outros 20 policiais civis e militares no mesmo ano.

Nas operações Manager (gerente, em inglês) e 100%, desencadeada ontem, além da prisão destes cinco policiais, outros dois também foram alvo da investigação. A Justiça, porém, deferiu apenas o afastamento deles das funções. Também houve a expedição de outros cinco mandados de prisão preventiva contra gerentes da quadrilha, só dois, contudo, foram cumpridos.

De acordo com o delegado-chefe de Naviraí, Nilson Zanzarin, os contrabandistas pagavam R$ 160 mil de propina a um grupo de policiais e gerentes para liberar cada caminhão que seguia rumo a outros estados brasileiros. “Temos evidências de que esse grupo mandou produtos para todas as regiões do País”, disse o delegado.

LAVAGEM

Houve prisões de policiais e gerentes da quadrilha em Campo Grande, Juti, Naviraí, Eldorado e Japorã. Também houve cumprimento de mandados de busca e apreensão nas cidades de Campo Grande, Dourados, Juti, Naviraí, Mundo Novo, Nova Alvorada do Sul, Eldorado, Rio Brilhante e em Umuarama (PR).

Na cidade do interior do Paraná, perto da divisa com Mato Grosso do Sul, os policiais federais apreenderam pelo menos 40 matrículas de imóveis no apartamento do alvo da quadrilha. “O próximo passo é analisar a origem do material apreendido. Ele pode gerar uma investigação de outros crimes, como lavagem de dinheiro”, explica o superintendente regional da Polícia Federal, Cléo Mazzotti.

INVERSÃO DE VALORES

Além dos mandados de prisão contra os policiais rodoviários federais, também foram cumpridas ordens de busca e apreensão em postos de fiscalização, como os de Rio Brilhante, Naviraí, Nova Alvorada do Sul e Eldorado (Mundo Novo).

Conforme o delegado Nilson Zanzarin, os criminosos inverteram as atribuições de policial bom ou ruim ao classificá-los conforme a utilidade para a quadrilha. Para os bandidos, o policial bom era o que deixava os caminhões carregados com cigarro passar. “Por isso a operação se chamou 100%, esta era a senha para explicar que o caminho estava livre”, explicou o delegado.

Para os bandidos, os policiais ruins eram os considerados bons para a maior parte da sociedade. “Eram os honestos, que não se vendem e que poderiam certamente apreender as cargas”, completou.

Fonte - Correio do Estado