Publicado em 26/10/2025 às 13:09, Atualizado em 26/10/2025 às 17:13

Com dificuldades para importar chips, fabricação de carros pode parar em semanas

Em um efeito cascata, MS pode sentir os efeitos da crise dos chips mesmo não tendo nenhuma fabricante

Redação,
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Foto - Ilustração

O Brasil ocupa a 9ª posição como um dos países que mais produz veículos no mundo, segundo o Anuário da Indústria Automobilística Brasileira 2025. No entanto está a um passo de enfrentar um desafio no setor, na última quarta-feira (22), o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Igor Calvet, afirmou que a produção de carros no Brasil corre o risco de paralisar por dificuldades em importar chips – resultado de uma crise global.

“Estamos diante de uma crise que se desenha global no fornecimento de chips. Começamos a receber notificações sobre uma iminente interrupção de fornecimento de peças. A nossa indústria pode começar a parar nas próximas duas ou três semanas”, comentou durante entrevista à Folha de São Paulo.

Apesar de em Mato Grosso do Sul, não existir nenhuma fábrica de veículos em larga escala, o Estado possuí uma forte rede de concessionárias e comércios de carros, segmentos que podem a longo prazo sentir os efeitos caso as fabricações dos veículos, de fato, paralisem. A indústria automotiva do Brasil se concentra principalmente em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, sendo as que sentiram os primeiros impactos.

Em entrevista ao jornal O Estado, o CEO da Crisigner Automóveis – uma das maiores montadoras exclusivamente brasileira – Cristiano Ferrari, pontuou que com este cenário fica evidente a dependência que muitos setores ainda têm de outros países, algo que prejudica o alto desempenho das produções mobilísticas no país.

“A situação mostra o quanto o Brasil ainda depende de insumos externos. Cada dia fica mais claro que precisamos investir em tecnologia e fortalecer empresas brasileiras, para garantir autonomia e continuidade na produção automotiva”.

“Pedido de socorro”

Ainda segundo Calvet, a situação crítica informada ao vice-presidente e ministro do Mdic (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), Geraldo Alckmin. “Já alertei o vice-presidente Alckmin, sobre o que está acontecendo. Estamos desenhando a possibilidade de o próprio governo brasileiro fazer uma interlocução direta junto ao governo chinês, para que as exportações desse tipo de produto ao Brasil sejam liberadas”, comentou.

O Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores, que representa toda a indústria de autopeças instalada no Brasil, enviou uma carta diretamente a Geraldo Alckmin, com a “solicitação de apoio governamental em razão da situação crítica de abastecimento de componentes fabricados pela empresa chinesa Nexperia”.

Terras raras

A crise dos chips, desencadeada nos últimos dias, é resultado direto de disputas geopolíticas envolvendo o controle de tecnologias e de minerais críticos, como as terras raras. A economista Cristiane Mancini, lembrou que o Brasil também possui reservas, mas pondera que a China é um dos países que mais detém terras raras de extração.

No dia 12 de outubro, o governo holandês, sob forte pressão dos Estados Unidos, assumiu o controle da fabricante Nexperia, uma gigante de semicondutores que atua naquele país. Ocorre que a Nexperia é uma subsidiária do grupo Wingtech, de origem chinesa. Com a atitude, o presidente chinês da empresa foi destituído por ordem judicial, sob suspeita de transferência indevida de tecnologia para a China.

Ao assumir o controle temporário da empresa, o governo holandês alegou que havia risco de escassez de chips essenciais para a economia europeia, além de preocupações de segurança nacional. O temor é de que Pequim possa usar a companhia para influenciar ou restringir o fornecimento de semicondutores à Europa.

A resposta foi imediata. A China reagiu à intervenção holandesa e impôs restrições à exportação de componentes e tecnologias produzidas pela Nexperia em território chinês. Como consequência, essa decisão acabou limitando o envio de chips e peças que são montadas em fábricas da empresa no mundo todo.

Como o Brasil importa praticamente todos os semicondutores que usa e muitos desses componentes vêm de fornecedores que compram chips da Nexperia, o efeito em cascata já começou a se desenhar.

Produção em queda

Após um primeiro semestre de bons resultados frente ao mesmo período de 2024, a segunda metade do ano começou com dados preocupantes. A produção sofreu uma inversão de curva, fechando o terceiro trimestre com recuo de 0,8% frente ao mesmo período do ano passado. O setor de pesados contribuiu decisivamente para essa baixa, com queda de 9,4% ante o terceiro trimestre de 2024. No caso de leves, houve redução de 0,3% em comparação com o mesmo período do ano anterior.

No acumulado do ano, a produção ainda está acima do visto de janeiro a setembro de 2024, com alta de 6%. Os dados do último trimestre, no entanto, indicam dificuldades para o setor manter o desempenho.

“Os números do período de julho a setembro nos preocupam por indicarem a perda

da tração que verificamos na primeira metade do ano e nos impõem o desafio de uma recuperação considerável no último trimestre, diante de uma base muita boa do final do ano passado”, afirmou o presidente da Anfavea.

Por Suzi Jarde