Publicado em 08/08/2021 às 08:00, Atualizado em 07/08/2021 às 18:55

Lira afirmou ao TSE que voto impresso será derrubado no plenário da Câmara

A expectativa é que o tribunal, por outro lado, adote medidas para tornar a auditagem das urnas eletrônicas mais transparente

Redação,
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(Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), enviou um recado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE): ele vai levar a proposta de emenda constitucional (PEC) que prevê a adoção do voto impresso ao plenário para que ela seja derrotada pelos deputados.

Desta forma, o assunto seria encerrado e o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), poderia mudar de assunto sem sofrer uma derrota do Judiciário, com quem tem se confrontado permanentemente.

A expectativa é que o tribunal, por outro lado, adote medidas para tornar a auditagem das urnas eletrônicas mais transparente, com maior divulgação e com a eventual ampliação do percentual de máquinas que passam por teste de integridade.

A iniciativa de Lira ainda está sendo digerida pelos magistrados e também por deputados federais.

Os ministros do TSE preferiam que a questão não fosse a plenário, e teriam dito isso ao presidente da Câmara.

Levar o tema ao plenário só aumentará o desgaste dos magistrados e colocará os parlamentares no meio da confusão, deixando-os expostos a pressões e a ataques de bolsonaristas.

Uma parte dos deputados, por sua vez, acredita que o presidente da Câmara não pretende incendiar o país nem alimentar o discurso golpista de Bolsonaro. O melhor, nesta circunstância, seria encerrar o assunto.

Diante da instransigência de Bolsonaro, no entanto, ele teria decidido levar o tema ao plenário, sem, no entanto, se comprometer com sua aprovação.

Há parlamentares, no entanto, que acreditam que Lira tem uma convergência ideológica com Bolsonaro no sentido de limitar poderes do TSE.

Eles dizem que basta ver a reforma política que está sendo encaminhada na Câmara, que impõe um freio nas atribuições da Corte, para se entender o pensamento de Lira.

Bolsonaro partiu para o confronto direto com o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, e chegou a chamá-lo de "filho da puta" em uma aglomeração hoje com apoiadores em Joinville, em Santa Catarina.

Nesta semana, o presidente participou de um programa de rádio em que levantou novas suspeitas contra as urnas eletrônicas, afirmando que a própria Polícia Federal tinha encontrado indícios de fraude –o que, segundo o TSE, não ocorreu e jamais foi comunicado ao tribunal.

Na quinta (5), Bolsonaro sofreu uma derrota na comissão especial que analisava a PEC que prevê o voto impresso.

Ela foi derrotada por 23 votos a 11.

O presidente, no entanto, sinalizou que isso não basta e que pretende continuar sua pregação pelo voto impresso.

A votação em plenário, e a eventual derrota da PEC, seria um passo para que o assunto fosse enterrado.

Ainda que ela seja ​aprovada, dificilmente passaria no Senado, onde um projeto anterior sobre o mesmo assunto nunca foi analisado.

Procurado pela Folha, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, não retornou às ligações da reportagem.