Buscar

02/06/2017 às 11:00, Atualizado em 01/06/2017 às 23:22

Projeto contra a tuberculose nos presídios de MS servirá de referência nacional

A proposta é que em até três meses sejam triados todos os agentes penitenciários.

Cb image default
Os agentes penitenciários também serão triados devido à convivência diária com a população carcerária.

O projeto que pretende fortalecer ações de saúde contra a tuberculose (TB) em unidades prisionais de Mato Grosso do Sul é pioneiro no Brasil e no mundo. A partir de julho, os trabalhos serão iniciados com o apoio de uma carreta móvel equipada para a realização do teste rápido molecular, dos raios x digitais e da cultura da bactéria.

Inicialmente, a ação com a unidade móvel acontecerá nos dois maiores presídios do Estado, na Penitenciária Estadual de Dourados (PED) e no Estabelecimento Penal Jair Ferreira de Carvalho (EPJFC), em Campo Grande, ambos de segurança máxima. “O motivo é que 80% dos casos de tuberculose que ocorrem dentro das prisões de Mato Grosso do Sul se concentram nestas duas unidades, então, se focarmos já de início nestes dois presídios, reduziremos consideravelmente os casos de TB, o que impacta na comunidade em geral”, explica o médico infectologista Júlio Croda, professor da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).

Os agentes penitenciários também serão triados devido à convivência diária com a população carcerária.

Idealizador e coordenador do projeto, Croda destaca que o objetivo principal é identificar, precocemente, pessoas com sintomas de tuberculose, tanto os privados de liberdade quanto os agentes penitenciários. “Mesmo porque, como a doença é transmitida pelo ar, ao identificarmos com antecedência, menor será a transmissão e proliferação da bactéria dentro dos presídios”, complementa.

A proposta é que em até três meses sejam triados todos os agentes penitenciários e os reclusos da PED e da Máxima. “Por dia, 64 pessoas serão triadas e pretendemos fazer quatro triagens dessas ao longo do projeto, será uma por ano durante quatro anos ou uma a cada seis meses por dois anos, tudo dependerá do caminhar das atividades”, destaca o pesquisador.

Dentre os novos casos de TB registrados em toda a população de MS, 20% deles se encontram dentro dos presídios. Em relação à massa carcerária do estado, apenas 1% já apresentam Tuberculose. O projeto, que também será ampliado a todos os outros presídios de MS, terá duração de quatro anos e, ao final, a projeção é triar 20 mil pessoas e ofertar 60 mil exames.

A importância de triar também os agentes penitenciários é explicada pela convivência diária dentro das prisões, o que enquadra esses profissionais no mesmo patamar de risco de contrair as doenças aos privados de liberdade.

Para esclarecer os procedimentos que serão usados neste projeto, Croda enfatiza que não haverá nenhum teste de medicamento novo. “Conforme recomendação do Ministério da Saúde, serão usados os medicamentos já existentes para tratar a TB latente. O que vamos inovar é no teste da profilaxia primária, para detectar precocemente novos casos da doença”, finaliza o infectologista.

O projeto será realizado por meio da parceria entre as universidades federais do Estado, dos Estados Unidos e a Secretaria de Estado de Saúde (SES). A pesquisa será comandada pela Universidade de Stanford e pelo Instituto Nacional de Saúde Pública dos Estados Unidos, o qual investirá R$ 2,2 milhões. A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) estão entre as colaboradoras brasileiras.

A carreta foi doada pela Receita Federal e o Governo do Estado investiu R$ 137 mil na preparação do baú, que barra a radiação emitida pelo aparelho de raios x. Para equipar a carreta, foram investidos R$ 700 mil no total.

Segundo o secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, José Carlos Barbosa, Mato Grosso do Sul pode ser referência nacional e mundial em projetos como esse, que prioriza a saúde dos internos e dos profissionais do sistema penitenciário, mas acaba refletindo também no restante da população.

Para o diretor-presidente da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), Aud de Oliveira Chaves, projetos como esses demonstram o comprometimento da instituição com a saúde dos reeducandos e os profissionais da área, considerando que a prevenção de doenças é a melhor saída para uma gestão eficaz. “É importante destacar também que a iniciativa é fruto de parceria entre o Governo do Estado e universidades brasileiras e até de fora do país, reforçando esse esforço em prol do sistema prisional, bem como de toda a população”, comenta.

Visita

A agência penitenciária recebeu a visita da equipe de Júlio Croda com pesquisadores brasileiros, cinco norte-americanos e uma inglesa no Estabelecimento Penal Jair Ferreira de Carvalho (EPJFC) e no Módulo de Saúde do Complexo Penitenciário da Capital, durante a semana passada. Segundo Croda, a finalidade das visitas é para que os colaboradores e pesquisadores do projeto entendam o sistema prisional do estado e conheçam, pessoalmente, o ambiente e suas funcionalidades, com o intuito de terem ideias inovadoras e de intervenção.

Idealizador e coordenador do projeto, Croda (de branco); parte da equipe que veio visitar o Estado e representantes de MS.

Conforme a psicóloga e chefe da Divisão de Saúde da Agepen, Maria de Lourdes Delgado Alves, que acompanhou toda a visita, este projeto é a continuidade do trabalho que já vem sendo realizado pelo pesquisador e sua equipe desde 2010. “Agora a ideia é melhorar a prevenção e o tratamento da tuberculose no sistema prisional”, explica.

Mato Grosso do Sul será o berço deste projeto por conta do apoio que os pesquisadores receberam do Governo do Estado e da Agepen. “Há sete anos, temos uma parceria realizada em projetos e estudos anteriores, todos concluídos com êxito. Sem esse trabalho em equipe é impossível executar algum tipo de assistência à saúde prisional, mesmo porque, precisamos ter a nossa segurança garantida também”, concluiu Croda.

Durante a visita, o idealizador do projeto explicou que o foco deste trabalho se concentra na tuberculose por ser a principal doença relacionada ao encarceramento. Como as condições de superlotação vêm sendo uma realidade crescente em todo o Brasil é fundamental que haja estudos para evitar a proliferação desta bactéria dentro das prisões, porque existe uma relação direta entre o aumento da superlotação com a maior possibilidade de contrair a tuberculose.

Fonte - Site do governo do MS

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.